Nota da Assembléia Regional do Cimi


Povos Indígenas do Maranhão lutam pelo Bem Viver

O Conselho Indigenista Missionário, Regional Maranhão, reunido em sua XXXIII Assembléia Regional, nos dias 18 a 20 de maio, na cidade de São Luis/MA, para refletir sobre o tema “A Mãe Terra clama pelo Bem Viver”, vem a público manifestar sua preocupação com o momento que atravessam os povos indígenas no estado do Maranhão.


Jovem Gavião de olho nas promessas políticas
  O Cimi Regional Maranhão, junto com Movimentos Sociais e representantes dos povos indígenas Guajajara, Ka’apor e Gavião/Pukobyê, constatou que vivemos a realidade política de “dois estados”: o oficial, propagandeado pelo governo “De volta ao trabalho” na mídia que está ao seu serviço, e o Maranhão, não oficial, dos povos indígenas, dos quilombolas, dos lavradores e trabalhadores rurais, dos ribeirinhos, pescadores que produzem e vivem da terra.[...]

Reafirmamos a nossa aliança com os Povos indígenas Canela Apaniekrá, Guajajara, Gavião e Awá-Guajá, bem como, o nosso compromisso de manter o apoio à luta destes povos para a demarcação das Terras Indígenas Porquinhos, Bacurizinho, Governador e Awá, cujos procedimentos administrativos estão paralisados desde o início de 2011, por conta das pressões de grupos políticos e econômicos do estado.
Denunciamos a existência de uma campanha difamatória no Estado do Maranhão que reforça o racismo, o preconceito e um sentimento de ódio contra os povos indígenas que estão lutando pela garantia da vida em suas terras e pela recuperação de seus territórios. [...]

Denunciamos igualmente a omissão do Governo Federal e do Estado brasileiro de proteger os grupos de Awá-Guajá, sem contato com a sociedade envolvente, que correm risco de extinção por conta do aumento da exploração ilegal de madeira nas T.I. Awá, Caru, Alto Turiaçú e Araribóia. [...]
D. Sebastião Lima Duarte,
responsável da Pastoral
Indígena no Maranhão (NE 5)
  Junto com os Povos da Terra, reafirmamos o nosso compromisso com causa indígena na construção de um Bem Viver, de novas relações entre homem e natureza, onde o projeto de vida de cada povo fundamentada na gratuidade, na partilha, no respeito ao outro, da autodeterminação dos povos sejam considerados e respeitados.
D. Sebastião: seriedade jovial
São Luis, MA, 20 de maio de 2011.
Conselho Indigenista Missionário – Regional Maranhão
[cf. a íntegra da Nota: www.cimi.org.br ] 


A Nota do Cimi deve ser lida no contexto da Carta dos bispos do Estado de Maranhão, do 14 de fevereiro 2011, dirigida a todas as pessoas que atuam na defesa e na promoção da vida. Transcrevemos um trecho significativo dessa Carta sobre "uma inversão de prioridades e valores", que se encontra na íntegra no sitio do Regional Nordeste 5 (NE 5), Maranhão, da CNBB: www.cnbbne5.org.br

"Sentimos que chegou a hora de não mais aceitar que se jogue com os sentimentos e as expectativas de nosso povo, vendendo-lhe promessas mirabolantes de que tudo, a partir de agora, vai melhorar. Estamos às vésperas da comemoração dos quatrocentos anos da chegada dos europeus a essas terras. É um momento oportuno de se fazer um resgate histórico das formas de luta por liberdade, de resistência à escravidão, de testemunho de coerência de grupos sociais e de evangelizadores que têm marcado positivamente a história de nosso Estado. Esse resgate nos ajudará a fortalecer um projeto popular independente e soberano.

 A história do Brasil – na qual se insere a história do Maranhão – tem sido marcada pela apropriação por parte de pequenos grupos, mediante influências políticas e corrupção ativa, daquilo que pertence a todos. Esses pequenos grupos fazem do bem público um patrimônio pessoal. Talvez por esse motivo, a maioria da população cuide tão mal de nossas praças e ruas, de nossas escolas e hospitais, de tudo aquilo que deveria estar a serviço de todos. Seria talvez uma maneira de reagir – certamente equivocada – a esse tipo de apropriação indébita.
 Para inaugurar um novo momento histórico, precisamos nos educar para um trato totalmente novo, mais ético, com o bem comum. Sentimos que chegou a hora de se fazer uma radical inversão de prioridades e valores. Não podemos deixar que o Estado continue colocando sua estrutura a serviço quase exclusivo dos grandes exportadores de minério, de soja, de sucos e carnes, construindo-lhes as infra-estruturas necessárias para obter sempre maiores dividendos. Ao contrário, ou paralelamente a isto, os aparatos do Estado devem estar a serviço da integridade humana de todos os seus cidadãos e cidadãs.
 Preocupa-nos sobremaneira que, em nome de um ilusório e equivocado desenvolvimento, entendido de forma redutiva como desenvolvimento exclusivamente econômico – e não na sua acepção integral –, empresários, quadrilhas de colarinho branco, setores do Estado e do Judiciário pisoteiem direitos básicos, transgridam impunemente normas ambientais, desconsiderem medidas básicas de prevenção de saúde pública, agridam povos e territórios tradicionais, rios, matas e seres vivos em geral.
 É urgente que produzamos sinais de uma nova sociedade na qual se proceda efetivamente a uma “inversão de prioridades”, investindo-se maciçamente em saneamento básico universal, em água potável, na distribuição equânime de terras férteis para quem trabalha nela, em unidades hospitalares para todos, em educação formal de qualidade. Está na hora de se fazer uma inversão de prioridades e valores também em relação ao papel do Estado e de seus representantes. Estes estejam em permanente escuta da sociedade civil, dos movimentos sociais, do povo e das suas legítimas aspirações e propostas para um verdadeiro bem comum."


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