Em
seu discurso ao Parlamento Europeu, die 25 de novembro de 2014, o Papa
Francisco afirmou que “é necessário enfrentar juntos a questão migratória. Não
se pode tolerar que o Mar Mediterrâneo se torne um grande cemitério! Nos barcos
que chegam diariamente às costas europeias, há homens e mulheres que precisam
de acolhimento e ajuda. A falta de um apoio mútuo no seio da União Europeia
arrisca-se a incentivar soluções particularistas para o problema, que não têm
em conta a dignidade humana dos migrantes, promovendo o trabalho servil e
contínuas tensões sociais”.
O Papa pediu em diversas ocasiões ser
corajoso e “sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as
periferias que precisam da luz do Evangelho (Evangelii gaudium 20)”. Respondendo a esse pedido devemos advertir,
que o Vaticano é praticamente o único Estado Europeu que não recebe refugiados,
que não tem um direito de asilo nem uma casa para receber refugiados que pedem
asilo político.
O padre Gabriele Bentoglio, que é
subsecretário do Conselho Pontifício para Migrantes, explicou, que sua tarefa
não é de ajudar refugiados diretamente no Vaticano e declarou: “Nós apoiamos no
mundo inteiro os bispos locais nessa questão, pratica e espiritualmente”. Mesmo
em espaços extraterritoriais, como “São Pedro fora dos Muros”, onde em 2011
umas dúzias de sem-teto pediram asilo, a resposta do Vaticano era negativa.
Em Lampedusa, porém, que pela visita do
Papa em 2013 chamou a atenção para os refugiados da África, diocese, paróquia e
organizações católicas prestam ajuda concreta, como corresponde à coerência com
o Evangelho. Percebe-se como é difícil avançar de uma Igreja “advogada da
justiça e defensora dos pobres” (Documento
de Aparecida, 395) para uma Igreja pobre, e como é difícil para o aparato
eclesiástico e para todos nós de ir ao encontro do sonho evangélico do Papa
Francisco e dar passos concretos em direção de “uma Igreja pobre para os pobres”
(EG 198) ou logo de uma Igreja pobre dos pobres.
“As
paróquias eliminem as listas dos preços dos sacramentos", pede o Papa
“Quantas
vezes vemos que, entrando numa igreja ainda hoje, encontra-se ali a lista dos
preços: para o batismo, a bênção, as intenções para a missa. E o povo se
escandaliza”. São palavras do Papa Francisco na homilia da missa na Casa Santa
Marta. “As Igrejas – sublinhou o Pontífice – jamais se tornem casas de
negócios, pois a redenção de Jesus é sempre gratuita”. “Eu penso – explicou –
no escândalo que podemos dar ao povo com o nosso comportamento, com os nossos
hábitos não sacerdotais no Templo: o escândalo do comercio, o escândalo da
mundanidade”.
A
informação é publicada pelo jornal La
Repubblica, 21-11-2014.
O
Papa fez sentir com força o seu anátema perante a Igreja negociadora. Uma
Igreja que pensa somente em fazer negócios comete “pecado de escândalo”. Depois
o Pontífice comentou o Evangelho no qual Jesus expulsa os mercadores do Templo
porque transformaram a casa de orações num covil de ladrões. “As pessoas boas
iam ao templo; procuravam Deus, rezavam, mas deviam trocar as moedas para fazer
as ofertas”. Como de costume, o Santo Padre referiu-se a um episódio ao qual
assistiu quando recém se tornara sacerdote:
“Estava
com um grupo de universitários e um casal de noivos queria se casar. Tinham ido
a uma paróquia, mas queriam fazê-lo com a missa e ali, o secretário paroquial
disse ‘não se pode’ porque há outros turnos”.
Ante
a insistência do casal que queria celebrar o matrimônio com uma missa, -
referiu o Papa Francisco, - aquele secretário de paróquia disse que então teria
de pagar dois turnos. E, para casar-se com a missa, tiveram que pagar dois
turnos. “Isto – denunciou com força Francisco – é pecado de escândalo”. Um
peado tão grande que, como recordou: “Nós sabemos o que disse Jesus àqueles que
são causa de escândalo: ‘Seria melhor que fossem jogados no mar’.”
O
comportamento denunciado pelo Papa Bergoglio, como recordou ele mesmo, investe
também contra os leigos. “Se eu vejo que na minha paróquia se faz isto –
denunciou no decurso da homilia -, devo ter a coragem de dizê-lo na cara ao
pároco. É curioso: o povo de Deus sabe perdoar os seus padres quando têm uma
fraqueza, deslizam no pecado... sabe perdoar. Mas, há duas coisas que o povo de
Deus não pode perdoar: um padre agarrado ao dinheiro e um padre que maltrata o
povo”. O Papa Bergoglio explicou porque Jesus insiste tanto contra o dinheiro:
“Porque a Redenção é gratuita. E quando a Igreja ou as Igrejas se tornam
comerciantes, se diz que não é tão gratuita a salvação”.
Manoel de Barros morreu aos 97 anos. O corpo do poeta foi enterrado nesta quinta-feira 13 de novembro, no cemitério Parque das Primaveras, em Campo Grande. Manoel de Barros era um alquimista das palavras do Pantanal. Fui buscar na minha biblioteca "O Guardador de Águas", onde encontro versos que o poeta diz ter aprendido sozinho: "No osso da fala dos loucos têm lírios"
Genebra (RV)
– O Conselho Mundial das Igrejas (CMI) condena a utilização de veículos aéreos
não tripulados, conhecidos como ‘drones’, considerando-os ‘uma série ameaça para
a humanidade’.
O comitê do CMI se reuniu nos últimos dias no Centro Ecumênico de Bossey, na
Suíça, e emitiu um comunicado sublinhando que o uso desta tecnologia está
permitindo países como Estados Unidos, Israel, Rússia e Reino Unido desenvolver
sistemas que darão plena autonomia de combate a estas máquinas telecomandadas.
A utilização de ‘drones’ começou na guerra dos Bálcãs e foi aumentando no
Afeganistão, Iraque, Iêmen, Somália, e recentemente, no Paquistão.
O comitê exorta os governos a respeitar e reconhecer o dever de proteger o
direito à vida de seus cidadãos, e opor-se à violação dos direitos humanos,
convidando a comunidade internacional a se opor às políticas e práticas
ilegítimas.
Em novembro passado, o Arcebispo Silvano Maria Tommasi, Representante
Permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, se disse preocupado pelo uso de
‘drones’: “Nos últimos anos – declarou – o emprego destes aviões em conflitos
armados e ações bélicas internacionais aumentou de modo exponencial. Para
certos líderes, os fatores sociais, políticos, econômicos e militares podem ter
modificado a equação sobre o uso de ‘drones’ armados, mas as preocupações
éticas e humanitárias continuam grandes e aumentam em proporção com a sua
utilização”.
Na
realidade brasileira passou quase despercebido a compra da Titan Aerospace, fabricante de veículos aéreos não tripulados, conhecidos
como drones. Nessa compra, o Google venceu o Facebook de Mark Zuckerberg que
estava negociando a compra da Titan por US$ 60 milhões. Os novos "Titanos" de hoje, amanhã serão nossos tiranos.
A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) divulgou hoje, dia 23, nota manifestando a preocupação da
entidade em relação aos direitos dos povos indígenas, após decisões da 2ª Turma
do Supremo Tribunal Federal (STF) de anular os efeitos de portarias do
Ministério da Justiça que reconheciam territórios ocupados por povos indígenas
no Maranhão e no Mato Grosso do Sul. O texto foi aprovado pelo Conselho
Permanente da Conferência, que esteve reunido em Brasília, de 21 a 23 de
outubro. "A CNBB espera que não haja retrocesso na conquista dos diretos
indígenas, especialmente quanto à demarcação de seus territórios", afirma
a nota.
Leia o texto na íntegra:
Os direitos dos povos indígenas
Nota da CNBB
O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília nos dias 21 a 23 de outubro de 2014,
manifesta sua preocupação com a decisão da 2ª Turma do Supremo Tribunal
Federal-STF que anulou os efeitos da Portaria Declaratória nº 3.219/2009, do
Ministério da Justiça, que reconhece a Terra Indígena Guyraroká, do Povo
Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, como de ocupação tradicional indígena.
Lamenta, igualmente, a anulação, pela mesma 2ª
Turma do STF, da Portaria 3.508/2009 que declara a Terra Indígena Porquinhos,
no Maranhão, como de posse permanente do grupo indígena Canela-Apãniekra.
A garantia dos territórios aos povos indígenas é um
direito conquistado e consignado na Constituição Federal, com árdua luta de
muitas pessoas da sociedade brasileira. Infelizmente, interesses econômicos têm
impedido a demarcação das terras indígenas, que é a concretização do direito
constitucional. Por isso, grande parte dos povos indígenas do Brasil continua
vivendo exilada de suas terras devido ao esbulho e à violência histórica
cometida contra suas comunidades.
Questionar as demarcações das terras indígenas no
poder judiciário tem sido uma estratégia utilizada com vistas a retardar ou
paralisar as ações que visam à garantia de acesso dos povos originários aos
seus territórios tradicionais. Enquanto aguardam a demarcação de suas terras,
várias comunidades indígenas ficam acampadas à beira de rodovias ou nas poucas
áreas de mata nos fundos de propriedades rurais, sem direito à saúde, à
educação, a água potável, sofrendo ações violentas.
A CNBB espera que não haja retrocesso na conquista
dos direitos indígenas, especialmente quanto à demarcação de seus territórios.
Concluir o processo de demarcação das terras indígenas é saldar uma dívida
histórica com os primeiros habitantes de nosso país e decretar a paz onde há graves
conflitos que vitimam inúmeras pessoas.
Que Deus nos dê forças para garantir os direitos
dos povos indígenas e de todos os brasileiros, superando toda atitude de
abandono e descarte das populações originárias. Nossa Senhora Aparecida,
padroeira do Brasil, nos ajude a construir a paz que nasce da justiça e do
amor.
Do dia 13 a 18 de outubro 2014 está se realizando o V Simpósio de Teologia Índia em San Cristóbal de Las Casas (Chiapas, México). O evento está sendo organizado pelo Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano).O tema, ainda considerado polêmico, trata "A revelação de Deus e a Teologia Índia". Os teólogos presentes trabalham o tema já em outra perspectiva: "A Teologia Índia como Teologia Fundamental da Igreja Católica". Em tese, também os bispos presentes, que trabalham em áreas indígenas, apoiam essa reformulação.
Caminhos abertos
na teologia da revelação
Celebração eucarística na Igreja San Diego, Chiapas
A
tentativa de construir uma ponte entre a percepção da revelação cristã, que se
formou no decorrer dos séculos, e a revelação de Deus no meio de todos os
povos, aponta para o reconhecimento da subjetividade dos povos indígenas, para
a inculturação de seu universo religioso e a descolonização da própria Igreja.
Esse reconhecimento que procura tratar os povos indígenas não somente como
destinatários da missão e da revelação cristã, mas também como interlocutores,
não é algo exterior à normatividade do cristianismo, portanto, uma medida
estratégica ou tática para defender a causa dos pobres e a dos povos indígenas,
mas é inerente aos imperativos do Evangelho. O conceito da “revelação” não é
propriedade de nenhuma denominação religiosa, mas todas as denominações podem
definir esse conceito segundo a sua história, seu contexto e seus
discernimentos.
Os participantes do evento: Indígenas e Bispos e Teólogos e Teólogas
Jesus
Cristo é não apenas aquele que veio, mas também aquele que virá, não somente
como juiz, mas como revelador definitivo do Pai e doador da graça da unidade no
Espírito Santo. Nessa perspectiva pode-se pensar o cumprimento definitivo do
sentido profundo da revelação: tirar o véu das contingencias históricas. Deus
vai tirar o véu de Seu mistério e todos verão a Deus face a face. A absoluta
transcendência se tornará palpável na absoluta proximidade.
[O texto faz
parte da minha contribuição no V Simpósio de Teología India: “Revelación de
Dios y Pueblos Originarios”, realizado em Chiapas, México (13-18.10.2014). P.S.]
“Ele
está aqui. Eu vi. Uma pessoa quando morre fica entre nós ele não foi embora.
Ele está aqui. Ele está olhando por nós. São poucos os que ajudam os povos
indígenas. Tem que continuar o trabalho, a luta de D. Tomás.”
Gercília
Krahô, importante liderança do povo, recebeu, na nova aldeia, com muito carinho, parentes e amigos de D.
Tomás, que ela tinha como tio. Para o povo Krahô o tio tem uma relevância tão
importante no papel da formação social quanto o pai.
A homenagem
ritual Amjĩkĩn Pàrcahàc acontece como finalização
de luto de um parente e neste caso seu inesquecível amigo Tomás. Este ritual
compreende momentos marcantes de noites acordados embalados pelos cantos no
pátio, pinturas corporais, os cortes de cabelos e a corrida com a tora de
buriti que simboliza o corpo de D. Tomas.
Esse corpo pintado e empenado percorre o pátio nos ombros dos indígenas
e em seguida levado a casa de Gercília, onde é
envolto em um pano e logo depois
despido para que as mulheres possam se despedir através do choro ritual, um
lamento profundo de lagrimas e soluços que toca e faz chorar muitos presentes.
O
cerrado já se vestia de verde e o rio se tingia de Vermelho para participar
desse momento ímpar da memória de um de seus filhos e defensores intransigente
e radicalmente comprometido com a diversidade de vida, povos e comunidades
originárias deste Brasil central.
Cenário
perfeito para um grande e inesquecível acontecimento. Beleza e simplicidade,
alegria e lágrimas, gestos profundos de espiritualidade ritual. A celebração da
memória de um “kupen” (não indígena) na aldeia é mais do que uma
excepcionalidade, é um gesto de reconhecimento da permanência dentre eles.
Presentes e compromisso
Um
dos momentos marcantes do ritual Amjĩkĩn Pàrcahàc foi quando Dom Eugênio,
bispo de Goiás entregou à comunidade, através de Gercília umas lembranças de D.
Tomás – uma cruz simbolizando os mártires latino-americanos e uma vistosa
estola, que ela imediatamente vestiu. Era mais do que memória. Foi o selado o
compromisso da continuidade do trabalho em defesa da vida e dos direitos dos
povos indígenas, em especial com os “mehin” (Krahô).
De
longe se ouvia a cantoria ritual no centro do pátio da aldeia. Era o último dia
da celebração. Gercília se aproximou de D. Eugênio, e num gesto perdido na
noite, carregada de harmonia, revezando silêncios e maravilhoso cantos, tirou o
colar que trazia no pescoço e colocou-o no bispo dizendo “Agora você é compadre
de D. Tomás”. Umas rápidas palavras e estava selado o compromisso.
D.
Eugênio declarou que sempre teve muita admiração por D. Tomás, pelos seus
trabalhos, pela sua luta. Por essa razão estava junto aos Krahô, com o pessoal
do Cimi, CPT e outros amigos de D. Tomás. “Simpatizo com a causa indígena e da terra.
É preciso defender essa gente e os empobrecidos da terra”. Disse ter achado
ótima essa oportunidade de conhecer um pouco mais da cultura indígena.
O massacre continua
No
decorrer dos três dias celebrativos inúmeros depoimentos foram sendo
desfilados, todos eles marcados por profunda indignação e revolta, pelas
violências, omissões, preconceitos e massacres. Isabel Xerente verberou “Vão
entrar em nossas terras (grandes projetos) para massacrar. Nois vivemos lutando
por todos. Tenho essas borduna pra dará na cabeça”.
Vários
depoimentos lembraram o avanço do agronegócio, destruindo as matas, poluindo os
rios. As monoculturas da soja, do eucalipto, do gado acaba envenenando e
matando a terra e os animais. Os rios estão secando.
Foi
lembrada a brava resistência das comunidades indígenas diante das políticas
desenvolvimentistas do atual governo com as rodovias, hidrovias, hidrelétricas,
dentre outros. Porém nós indígenas somos a semente e as plantinhas dessa terra.
Vamos continuar lutando. Vamos nos unir com os pobres. Vamos lutar unidos.
O
povo Krahô, que faz parte da grande nação Timbira, são hoje em torno de 3.200
pessoas vivendo em 28 aldeias nos municípios de Goiatins e Itacajá no Tocantins.
Gratidão e alegria.
O
ritual que marcou o fim do luto de D. Tomás entre os Krahô, também nos traz a
certeza de sua presença e a continuidade de sua luta entre nós e da vitória dos
povos originários do país e do continente latino-americano.
Rafael Fellmer, que vive há muitos anos sem dinheiro, inspirou partes dessa reflexão sobre o "bem viver". Vale a pena ouví-lo!
Este
texto representa fragmentos da quarta parte da minha palestra “Sonhar uma nova
realidade do `bem viver´”, que foi apresentado no dia 4.09.2014 durante o
XXXVIII Congresso de Teologia Moral, realizado em São Paulo, com o tema: “Ética
teológica e transformações sociais: A utopia de uma nova realidade”.
4.
Passos construtivos ao encontro do “bem viver”
O
conceito do “bem viver” não é uma receita ou um manual de aplicação, mas um
horizonte que nos faz caminhar, discernir e lutar. O “bem viver” não nos leva
de volta à pré-modernidade. Pelo contrário, é a realização dos ideais da
modernidade: igualdade, liberdade, solidariedade. A igualdade exige a
redistribuição dos bens do planeta (terra, água, ar) e a implementação dos
direitos humanos para todos, a liberdade requer a participação da sociedade
civil na gestão da “res pública”, e a solidariedade, hoje, significa: reconhecimento
do outro e da outra em todas as dimensões da vida humana.
A
seguir, alguns trilhos dessas lutas que nos aproximam do “bem viver”. Através
do ser-vir, o vir a ser cai na
realidade da história por pequenas frestas que permitem a passagem de raios de
luz e mostram os contornos embaçados da nova realidade. A partir do sofrimento
dos pobres, do desprezo dos outros e
das patologias que ameaçam o “bem viver” de todos, assumimos a responsabilidade
de construir a nova realidade histórica que exige de nós, não pequenos reparos
sistêmicos ou pessoais, mas uma virada cultural que repercuta em todos os
subsistemas sociais (econômico, político, religioso) e pessoais (psicológico,
ético).
As
ameaças impostas ao imaginário e à realidade do “bem viver” permitem traçar trilhos
para sua realização. Quais são essas ameaças? Quero destacar apenas duas delas,
nas quais se insere o restante das causas do “mal viver” da humanidade como um
todo.
O
nosso “bem viver” é ameaçado coletiva e individualmente pelo crescimento
econômico e pela aceleração das funções naturais e culturais da nossa vida cotidiana,
desde a clínica do nascimento, passando pela escola e os locais de trabalho e
lazer, até o asilo da nossa velhice, sempre somos rodeados por pessoas que
olhem no relógio e nos fazem entender que, o que poderia ser nosso encontro com
eles, é apenas um pit-stop de Fórmula 1.
Quero,
em seguida, sonhar e descrever o “bem viver” como um trem montado em dois
trilhos:
-
no trilho de uma economia do decrescimento para chegar ao pós-crescimento,
incluindo nesse trilho a redistribuição dos bens do planeta para todos;
-
e no trilho da desaceleração das funções de trabalho e das relações humanas que
permitiria o reconhecimento e, portanto, o encontro do outro e não nos obrigaria a substituir o “encontro” pelo “atendimento
concomitante”, um pelo smartfone, outro pelo e-mail, e outro, ainda, no guichê
da bilheteria.
4.1.
Do decrescimento
A
crise energética e a ameaça de um colapso da biosfera com seu impacto sobre o
clima, fizeram emergir o paradigma de um “capitalismo verde”, de um
“crescimento sustentável”, sem carbono, através de hidrelétricas, ou outras
energias alternativas, como a chamada bioenergia do etanol, a energia eólica e
a solar.
Por
cinco motivos, a meta do capitalismo verde (etanol, hidrelétricas, energia
eólica e solar, PSA) não é o “bem viver” para todos:
-
primeiro, o crescimento capitalista só funciona na base da competição que
produz vitoriosos e perdedores;
-
segundo, o crescimento capitalista, necessariamente, é um sistema de saque e
pilhagem à natureza, cujas reservas são esgotáveis;
-
terceiro, o capitalismo globalizado, sempre em busca de incorporação
(colonização) de novos territórios, produz recantos de exploração extrema da
mão de obra humana nos confins do mundo e no meio de nós, desde a China até os
esconderijos de trabalho de bolivianos no bairro do Brás, em São Paulo;
-
quarto, a competição - pela individualização da luta pela sobrevivência e dos
processos de produção -, destrói a coesão social da sociedade;
-
quinto, o capitalismo verde também é capitalismo, e como tal, é incapaz de
romper com o paradigma do crescimento econômico.
Na
construção do “bem viver” não se trata da aplicação de terapias, de dietas
light, de exercícios esportivos ou de práticas meditativas, que nos fazem
funcionar melhor no interior do sistema, mas de uma ruptura sistêmica com o
nosso estilo de vida. A estrutura do “bem viver” pode ser pensada somente no
interior de uma cultura de suficiência (modéstia, sobriedade) e subsistência
regionalizadas. A cultura de suficiência vai reduzir as nossas demandas do
supérfluo ao necessário, e a cultura de subsistência vai recuperar a bricolagem
de uma criatividade caseira, que pode substituir metade das nossas aquisições
de novos objetos (desejos) pelos concertos que nós ou nossos vizinhos (em
reciprocidade) são capazes de fazer.
Em
consequência disso, o “bem viver” não vai exigir que trabalhemos 40 horas por
semana. Trabalho não será apenas trabalho salarial. Haverá, como nas aldeias
indígenas, fronteiras líquidas entre trabalho e lazer. O trabalho pode ser
prazeroso.
O
impacto da cultura da suficiência sobre o trabalho salarial e a produção
industrial (poluidora), se sustenta em três novos comportamentos:
-
muitos dos objetos que compramos podem, com mais prazer, ser produzidos em nossa
casa ou em nosso quintal;
-
muitos dos objetos que jogamos fora, e substituímos por novos, podem ser
consertados por nós mesmos;
-
muitos dos objetos de que necessitamos para o nosso dia a dia podem ser
emprestados dos vizinhos e, na reciprocidade do “bem viver”, vamos
disponibilizar nossos objetos (bicicleta, liquidificador, carro) a eles. Essa
reciprocidade vai quebrar a lógica da riqueza privada.
Em
grande parte, a cultura da suficiência e seu sustento econômico serão regionais.
Não vamos abrir mão da internet, mas podemos dispensar a importação das figuras
do presépio, do guarda-chuva e da nossa camisa dominical da China, onde são
fabricados por salários e condições sociais vergonhosos. Como o transporte
causa enormes custos ecológicos, precisamos fortalecer as economias regionais. A
cultura da suficiência e subsistência nos orienta para:
-
a aquisição de produtos e tecnologias simples de longa duração;
-
a redução da dependência de redes externas de produção;
-
a redução do consumo excessivamente diversificado (“butique de pão!”), que encarece
os produtos.
O
“bem viver” exige a ruptura do círculo vicioso entre crescimento e aceleração.
4.2.
Da desaceleração
Em
seu “Plano Colonizador”, de 1558, que é um “Plano Civilizador”, Manuel da
Nóbrega pede para o abastecimento do Colégio da Bahia “duas dúzias de escravos
de Guiné” (n. 24) e para a Igreja pede “sino”, “relógio” e “campainha” (n. 27).
A civilização substitui o ócio, permitido pela natureza, pelo tempo
cronometrado do trabalho, da reza, do estudo e do lazer. Com a colonização
disciplinadora, segundo Nóbrega, se ganha “muitas almas” (n.5) e “muito ouro e
prata” (n.5).
A
“colonização disciplinadora”, hoje, tem o nome de globalização econômica e
cultural, que é atravessada pelos eixos do crescimento e da aceleração. O ato
revolucionário não é mais, como Marx pensava ser, “a locomotiva da história”,
mas, no dizer de Walter Benjamim, “talvez seja tudo muito diferente, e as
revoluções representem tentativas feitas pela humanidade, que viaja nesse trem,
de puxar o freio de emergência”.
A
abundância do etanol disponível, produzido com incentivos fiscais do governo,
permite pisar fundo no acelerador do carro. Etanol e tênis, que são meios de
aceleração coletiva e individual, conotam duas dimensões do “freio de
emergência” necessário na construção do “bem viver”: o freio do consumo e,
ligado a ele, a produção energética (Etanol), e o freio de tudo aquilo que é
simbolizado pelo fetiche da velocidade individual, através do tênis.
Nenhum
partido político, com mínimas chances de se eleger, vai hoje apoiar nosso
modelo do “bem viver”, com seus pressupostos de crescimento zero e
desaceleração. Os aliados mais confiáveis, na construção da nova realidade do
“bem viver”, são os que sofrem. O sonho de uma nova realidade do “bem viver” de
todos há de ser visto a partir da vida cotidiana daqueles que sentem em seus
corpos e almas a distância estrutural da realidade do “bem viver”. No seu grito
de um “basta”, seguido por lutas em todos os níveis da existência humana, está
a força que pode “desmascarar as ideologias, que naturalizam as patologias, e
desconstruir o consentimento alienado em dor histórica. A dor é sinal [...] que
na vida danificada subsistem razões para viver, não para viver de qualquer
jeito, mas para uma vida intacta e verdadeira”. No grito do basta se encontram
“estilhaços de racionalidade e fragmentos de esperança” para a construção do
“bem viver”. Lutas sociais fazem questionar a dor historicamente imposta, não
pela natureza ou pela vontade de Deus, mas por aquela parcela da sociedade que
faz da dor alheia um negócio. A memória dos pobres e a simplicidade de seu “bem
viver” apontam para lutas históricas que podem nos aproximar ao “bem viver” de
todos. Nós, que temos o privilégio do saber, temos também o dever de agir.
O padre Jesuíta Balduino Loebens (73), natural de Itapiranga (SC), onde residem seus familiares até hoje – irmã e sobrinhos. Durante mais de 40 anos, trabalhou ao longo do Rio Juruena, atendendo as aldeias do povo Rikbaktsa, na região de Fontanillas (MT). Era reconhecido também pelo atendimento na Pastoral da Saúde, com a homeopatia.
Devido ao festival de pesca, Balduíno teria passado o final de semana em uma aldeia e ligou informando que viria almoçar. Como o padre não chegou conforme previsto, os indígenas efetuaram buscas no rio Juruena e encontraram apenas o barco do religioso, junto com seus pertences, em uma área de pedras às margens do rio. Segunda-feira, dia 8, o corpo do padre foi localizado vários quilômetros abaixo do local onde foi encontrado seu barco e um chinelo. A suspeita é de que o padre tenha se afogado nas águas do rio, mas a causa real da morte ainda é desconhecida.
A Catedral Sagrado Coração de Jesus comunicou o falecimento em sua página institucional na internet. Em nota, a paróquia diz que o padre 'navegou' por muitos anos no Rio Juruena, "levando vida, esperança, apoio e a alegria do evangelho".
De acordo com o Boletim anual de Gases do
Efeito Estufa da Organização Meteorológica Mundial (OMM), de setembro 2014, a concentração
de gases do efeito estufa na atmosfera atingiu níveis recordes. Em 2013, a taxa
de acúmulo de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera teve o crescimento mais
rápido em um ano desde 1984.
A OMM afirmou que o relatório ressalta a
importância de um acordo mundial para limitar a emissões de gases do efeito
estufa. Em 2009, líderes de todo o mundo concordaram em fechar um tratado para
manter um aumento na temperatura global de no máximo 2ºC até 2020.
Cerca de metade das emissões acaba
absorvida por mares, florestas e seres vivos. Mesmo assim, a concentração de
CO2 na atmosfera bateu 396 partes por milhão (ppm) em 2013, um aumento de quase
3ppm em comparação com o ano anterior.
Crescimento recorde
"O boletim mostra que, bem longe de
estar caindo, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera de fato subiu
no último ano na taxa mais rápida em quase 30 anos", disse o
secretário-geral da OMM, Michel Jarraud.
A concentração de CO2 atual é de 142% dos
níveis de 1750, ou seja, antes do início da Revolução Industrial. O acúmulo de
outro potente gás de efeito estufa, o metano, foi de 253%. O estudo também
indica que o crescimento recorde do CO2 em 2013 não se deve apenas a mais
emissões, mas a uma redução na capacidade de absorção de carbono pela biosfera.
A descoberta intrigou cientistas da OMM. A última vez que se constatou uma
redução no nível de absorção da biosfera foi em 1998, quando houve um pico de
queima de biomassa, aliado a um intenso El Niño.
"Já em 2013 não houve impactos óbvios
na biosfera, portanto, é ainda mais preocupante", disse o chefe da divisão
de Pesquisa Atmosféria da OMM, Oksana Tarasova. "Não entendemos se isso é
uma coisa temporária ou permanente, e isso é preocupante." Tarasova afirma
que a descoberta pode indicar que a biosfera atingiu o seu limite, mas destaca
que é impossível confirmá-lo no momento.
Diante das evidências, a OMM urge líderes
mundiais a tomarem decisões contundentes sobre a política climática. Em 23 de
setembro será realizado em Nova York um encontro extraordinário sobre o clima,
convocado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
No fim do ano, a ONU promove a sua reunião
anual sobre mudanças climáticas, desta vez em Lima, no Peru. A expectativa é
que os dois encontros cheguem ao consenso necessário para um novo acordo
climático mundial na reunião anual da ONU de 2015, em Paris. No entanto, até o momento
não se tem qualquer previsão de como transformar o acordo em algo legalmente
vinculante, para que seja, de fato, efetivo.