Manaus (RV) – No primeiro dia de trabalhos do Encontro da
Igreja Católica na Amazônia Legal (29.10.2013), as palestras da manhã verteram
sobre temas do mundo urbano e os grandes projetos do Governo Federal para
Amazônia Legal. A Professora Brenda Carranza, Doutora em Sociologia da
Religião, pesquisadora da Universidade da Califórnia e professora da PUC de
Campinas, defendeu que a experiência religiosa deve ser mais criativa nas
comunidades, a fim de aglutinar e formar o tecido social. “É preciso abrir
espaços plurais de participação”, afirmou.
Em seguida, foi a vez do Prof. Pedro Contijo, Secretário
Executivo da Comissão Justiça e Paz da CNBB e pesquisador de filosofia política
e ética. Segundo ele, o governo desrespeita a sociedade amazônica. Basta pensar
que de 2008 a 2012, 17 dos 20 projetos pensados para a região sofreram algum
tipo de interdição ou processo. “A população não recebe benefícios e o lucro
vai direto pagar as commodities da dívida”, apontou.
Na parte da tarde, o painel amazônico propôs um mapa das
religiões na região, com o Pe. Thierry de Guertechin sj, demógrafo e diretor do
Ibrades, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento. O sacerdote belga apresentou
slides com dados que comprovam a expansão de seitas evangélicas na área
amazônica.
A palestra da Irmã Henriqueta Cavalcante, coordenadora da
Comissão Justiça e Paz (CJP) do Regional Norte 2 da CNBB (Pará e Amapá),
silenciou o público na sala. Ela falou de sua atuação junto aos “porões da
sociedade”, apresentando os números do tráfico de pessoas na Amazônia: um novo
e velho drama que assola a região. Crianças e adolescentes vendidos como
trabalhadores domésticos, “mulas” para o tráfico de drogas, usados na
mendicância e até explorados em clubes de futebol menores que depois os vendem
a grandes times. Em relação às mulheres, a prostituição é a chaga mais comum.
Meninas e jovens são aliciadas e vendidas para boates além-fronteiras, em
Suriname e na Guiana Francesa. As que ficam no Brasil vendem seus corpos nas
balsas, frequentemente ficando grávidas ou contraindo doenças sexualmente
transmissíveis, quando não desaparecem completamente.
Representando a população quilombola, Catarino dos Santos, da
comunidade de Cruzeiro, no Maranhão, afirmou que o lema deste povo de
descendentes de escravos africanos é “trabalho e liberdade”. Terminando a
sessão, tomou a palavra Jacir José de Souza, líder dos índios Makuxi da Terra
Indígena Raposa Serra do Sol e vencedor do Prêmio ambiental Chico Mendes em
2009. O tema de sua palestra foi a superação e a substituição de modelos
predatórios e danosos ao meio ambiente por outros racionais e sustentáveis,
para minimizar os impactos sobre a Amazônia Legal.
Nos 25 anos da Constituição Federal, promulgada em 1988, as
populações tradicionais indígenas “estão sendo vítimas de mais um ultraje”.
Quem nos explica o porquê é o bispo de São Gabriel da Cachoeira. No município,
a 850 km de Manaus, nove entre dez habitantes são indígenas. Dom Edson Damian
alerta: “Os parlamentares querem impedir novas demarcações e homologações de
terras indígenas”.
De Manaus, Cristiane Murray
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