PM desocupa a Aldeia Maracanã, antigo Museu do Índio, no Rio, com tumulto e violência




A polícia usou spray de pimenta e gás lacrimogênio para conter o tumulto. O prédio, que dará lugar ao Museu Olímpico, foi cercado durante a madrugada por mais de 50 PMs, com motos e carros. Um helicóptero da PM sobrevoa a área. [...]

Alba Valéria Mendonça
e Isabela Marinho, G1 Rio

 Entenda o caso

A polêmica sobre o destino do espaço começou em outubro de 2012, quando o governo do estado anunciou mudanças no entorno do Maracanã, para que o estádio pudesse receber a Copa das Confederações, em 2013, a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016.

Pelo projeto da Casa Civil, o Maracanã seria transferido para a iniciativa privada, que deveria construir um estacionamento, um centro comercial e áreas para saída do público. Para isso, alguns prédios ao redor do estádio deveriam ser demolidos, entre eles o casarão do antigo Museu do Índio, que funcionou no local de 1910 até 1978.

O edifício com área de cerca de 1600 m² está desativado há 34 anos. O grupo de indígenas que ocupa o prédio – e deu ao museu o nome de Aldeia Maracanã – está no local desde 2006.

Esse ano, no entanto, a 8ª Vara Federal Cível do Rio de Janeiro concedeu imissão de posse em favor do governo estadual. Os índios foram notificados em 15 de março.

Centro de Referência Indígena chega tarde

A Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos ofereceu ao grupo opções de moradia provisória até que o Centro de Referência Indígena seja construído, na Quinta da Boa Vista, também na Zona Norte. O secretário Zaqueu Teixeira deu prazo de um ano e meio para a construção do Centro de Referência Indígena.
 
Um dos abrigos provisórios é o Hotel Santanna, no Centro da cidade, onde indígenas teriam alimentação e um andar exclusivo, segundo o governo. [...] "Oferecemos tudo para que fosse resolvido: transporte, alimentação, hospedagem para que fosse resolvida e não tem mais o que ofertar. É a última proposta do governo. Se eles não cumprirem, a Justiça vai obrigá-los a sair. Minha parte, que é ofertar, já está feita. Aí é com a Justiça o tempo para retirá-los", disse o secretário na quinta-feira (21).

O defensor público federal Daniel Macedo, que ontem negociou com o grupo essa proposta, disse que os indígenas estavam "resolutos em aceitá-las" e que o hotel oferecido pelo governo é utilizado por moradores de rua, que passam a noite no local e têm que deixá-lo às 9h da manhã do dia seguinte.

Macedo afirmou que alguns indígenas estão dispostos a lutar com a própria vida. "Se falecer um índio aqui, vai repercutir mal internacionalmente e internamente", disse.

"A gente até agora não assinou nenhum documento, não há local definido pra nova Aldeia Maracanã. O prédio que cederam, não fomos ver, mas sabemos que não é adequado. Por isso vamos manter a resistência pacificamente neste local", disse na quinta Afonso Apurinã, presidente da Associação dos Índios da Aldeia Maracanã.

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