de
José Goldenberg
Há uma forte analogia entre a
inquietação da sociedade que se manifesta hoje nas ruas das cidades
brasileiras, na Turquia e em outros países com o que está acontecendo na área
de energia.
Característica geral dessas
manifestações é o inconformismo com a estagnação do progresso, a indignação com
a transformação da política em balcão de negócios e vantagens pessoais e a
ausência do otimismo que galvaniza as pessoas em tomo dos seus governos. Problemas
análogos ocorrem há anos no setor de energia baseado no uso de combustíveis
fósseis (carvão, petróleo e gás), que permitiram um desenvolvimento técnico e
econômico sem precedentes na História da humanidade, mas, após mais de um
século de grandes avanços, dá claramente sinais de exaustão.
As razões para tal são
basicamente as seguintes:
• As reservas excepcionais de
petróleo e gás dessa região aumentaram a dependência mundial das exportações da
Arábia Saudita, do Iraque, do Irã e outros, criando graves problemas
geopolíticos que têm dado origem a instabilidades políticas e até guerras.
• A poluição ambiental que tem
origem no uso dos combustíveis fósseis e sufoca as grandes cidades da China, do
México e outras. Não se trata apenas de poluição local, mas também da emissão
de gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento global. Esse é um
problema que afeta a todos, mesmo fora dos locais e das cidades onde se
origina.
Diversos governos tem procurado,
ativamente, soluções novas que lhes permitam enfrentar essas questões.
Na Europa é a adoção de metas –
e um calendário para cumpri-las – de redução das emissões de gases-estufa, quer
por meio de maior eficiência no uso de energia ou no uso de energias
renováveis, que tem sido amplamente beneficiado por instrumentos fiscais.
Na China é um amplo programa de
redução da poluição, que deve ser incorporado no próximo plano quinquenal. O
problema nesse pais é que a maior parte da eletricidade é gerada em usinas
termoelétricas que queimam carvão de baixa qualidade. Ao melhorar a eficiência
dessas usinas ou optar por gerar eletricidade com energias renováveis, pode
resolver dois problemas: o da poluição local, que é muito sério na China, e o
da poluição global.
Ação mais visível do governo
federal ocorre no setor de petróleo, com a exploração do pré-sal, no qual o
governo está jogando todas as suas fichas, apesar dos enormes desafios técnicos
e econômicos envolvidos. Pior ainda, desperdiçou cinco anos sem a realização de
leilões que poderiam atrair sócios estrangeiros que dividiriam os investimentos
e os riscos com os quais a Petrobras não consegue arcar sozinha.
No setor de eletricidade, o
sistema adotado de leilões – baseado numa duvidosa teoria de “modicidade
tarifária” – pode ser atraente como diretriz política para conseguir
popularidade e votos, mas não é racional. Diferentes formas de energia têm
custos e características diferentes e devem ser tratadas de maneira distinta.
Se isso fosse feito corretamente, milhões de quilowatts de energia elétrica
estariam sendo produzidos usando bagaço das usinas de açúcar e álcool. Como
isso não foi feito, a eletricidade passou a ser gerada usando gás e carvão, com
custos elevados que, na prática, tomam inviável a tentativa de baratear o custo
da energia elétrica. Este verdadeiro “tiro no pé” acabou por, praticamente,
inviabilizar também a Eletrobrás, cujas ações despencaram em queda livre. Além
disso, o gerenciamento dos parques de geração eólica demonstraram falhas, bem
como a construção de usinas hidrelétricas sem reservatórios.
O governo cogita agora de
estimular o uso do carvão em usinas termoelétricas – na contramão do que estão
fazendo a China e os Estados Unidos – e até energia nuclear!
O fato de os Estados Unidos e a
China – que juntos emitem mais de 50% dos gases poluentes – decidirem
unilateralmente adotar medidas para reduzir tais emissões prenuncia um acordo
entre eles, que vai deixar o Brasil isolado na sua política climática, a qual
tem sido sempre a de se recusar a tomar medidas sérias nessa área, usando o
argumento de que elas impediriam o crescimento econômico do País.
Exceto pela redução do
desmatamento na Amazônia, a política climática brasileira está paralisada. Até
mesmo a liderança que o Estado de São Paulo assumiu nessa área está encontrando
resistências da indústria, que assim adia mais ainda a sua modernização e o
aumento da produtividade, essenciais para competir no mercado internacional.
Antes que seja tarde seria bom
que se ouvisse, nessas questões, a voz de técnicos independentes, que neste
caso representa a “voz das ruas”, para evitar repetir o que está acontecendo em
outras áreas.
excelente post!
ResponderExcluirMuito bom o post bem bacana !!
ResponderExcluirMuito bom o post amei vou sempre visitar seu website !!
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