Á Vossa Santidade o Papa Francisco
Adriano Karajá entrega carta ao Papa Francisco |
Nós lideranças indígenas do estado do Tocantins, estamos
muito felizes que o senhor esteja aqui no Brasil na JMJ. Confiamos que sua visita será para o Brasil
luz e esperança nesta atual conjuntura.
Em nome de todos os 305 povos indígenas do Brasil
reconhecidos oficialmente, mas também, dos povos livres que ainda se encontram
nas florestas, nós jovens indígenas do Tocantins que viemos a JMJ o
cumprimentamos com respeito, admiração e carinho.
Sabemos que o senhor é a liderança maior da Igreja Católica, soubemos de todo o processo de sua
eleição e acreditamos que Deus o chamou para uma importante tarefa, de forma
especial com os pobres e excluídos. Não é a toa que o senhor escolheu para
chamar-se “Francisco”, o irmão dos pobres e da natureza.
Motivados e animados por esta simplicidade e seu compromisso
com os pobres e excluídos, viemos até o senhor, para pedir-lhe que interceda
pelos povos indígenas ante o governo brasileiro. Sua Santidade deve já conhecer
a situação que se vive no Brasil, principalmente pelos últimos acontecimentos
destes dois últimos meses, todo como consequência das políticas governamentais
que só servem ao grande capital e as grandes empresas e esquece o essencial: a
vida, a justiça e a dignidade da população.
Nós pedimos a sua
Santidade, como liderança maior que peça ao governo brasileiro que pare todos
os ataques e violências que vem fazendo contra nosso povo indígena. Nós povos
indígenas só existimos com a Terra que é nossa Mãe, com o rio que é nosso Pai,
sempre vivemos em harmonia com a natureza, sem terra somos como uma árvore sem
raiz. Por isto, viemos pedir que peça urgentemente
ao governo da presidente Dilma Rousseff, que pare com o massacre contra nossos
parentes, principalmente com o povo indígena Guarani Kaiowá do Mato Grosso do
Sul, que sofre por ter sido expulsado de sua terra que atualmente está em mãos
dos fazendeiros. Eles matam, criminalizam e acusam de bandidos e invasores aos
povos indígenas. Tal é o caso do povo Terena no estado do Mato Groso do Sul e
do povo Munduruku no estado do Pará, assim como, em outros povos, que por
defender sua terra lideranças tem sido assassinadas covardemente.
Todos os conflitos se dão pelo direito á terra. E esse conflito o tem provocado e
fomentado o governo brasileiro com sua política indigenista que prioriza a
exploração e roubo de nossos territórios, transformando-o em mercadoria. Por
isto, nossas terras são cobiçadas por grandes empresas que querem explorar sem
piedade as riquezas de nossas matas. Nossa Terra é sagrada, é dom de Deus que
deu aos nossos antepassados e nós não vamos deixar que nenhum governo, nem
empresa tire de nós o que é nosso: a Terra.
Os nossos territórios estão constantemente ameaçados pelos
grandes projetos, como estradas, hidrelétricas, hidrovias, ferrovias e o
agronegócio. Estes projetos são projetos de morte para nossa Mãe Terra e para
nós povos indígenas. Por isto viemos pedir ao senhor, o amigo e defensor dos
pobres, que peça ao governo brasileiro que
pare com todos os esses projetos genocidas, como são a Portaria 303 da AGU, as Propostas
de Emenda á Constituição (PEC) 038, 215 e 237, assim como também o Projeto de
Lei (PL) 1610 sobre a mineração.
Todos eles são propostas
para reduzir, manipular e acabar com
os direitos indígenas garantidos na Constituição Federal de 1988. Estas
propostas colocam as terras indígenas á mercê da exploração desenfreada, que só
quer destruir e matar, sem respeitar a nossa cultura, tradição e
espiritualidade.
Peça ao governo brasileiro também que cuide com carinho e
atenção dos povos indígenas, principalmente no tocante a saúde, pois muitas de
nossas criancinhas, jovens e anciões tem morrido por falta de atendimento
básico. Pedimos que interceda por nós para que o governo escute o clamor dos
povos indígenas, dialogue com respeito e respeite as nossas decisões, no
tocante a nossos territórios. Que respeite a Convenção 169 da OIT, e aceite a
consulta, livre, previa e informada.
Nós só queremos nossa terra, viver em paz e criar nossos
filhos e netos na terra que Deus nos deu. Queremos fazer nossas roças, pescar,
cantar e dançar, fazer nossos rituais e
viver tranquilos, é só isso que queremos, o seja, queremos nosso Bem Viver, que
significa viver bem com a natureza e com as pessoas. Não queremos que nossos
jovens continuem suicidando-se por falta de seu território e por não ter que
oferecer aos seus filhos.
Queremos dizer ao senhor que agradecemos a solidariedade da
Igreja Católica do Brasil á nossa luta e defesa de nossos direitos e o compromisso á causa indígena.
Papa Francisco, agradecemos que você não desistiu de vir ao
Brasil neste momento difícil, que não
tem medo de ficar com os pobres, que significa para nós ficar ao lado dos povos
indígenas, ribeirinhos, quilombolas, camponeses e excluídos da sociedade e
defende-los dos grandes e poderosos.
Já por último, queremos convidá-lo para que visite um dia
nossa aldeia e veja a riqueza de nossa cultura e a força de nossa
espiritualidade e contemple a beleza de nossa Mãe Terra.
Que Deus o ajude a defender a vida dos, mas pequenos e que
nos ajude a todos a construir a Terra sem Males.
Atenciosamente, Jovens indígenas do Tocantins- Brasil.
[27.7.2013]
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