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Paulo Suess e D. Anders Arborelius |
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Bandeira Sámi |
Na escuta da Palavra |
A imagem original de Nossa Senhora Aparecida é uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, que precede por muitos séculos a proclamação do dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria. Três pescadores encontraram, no dia 12 de outubro de 1717, uma imagem de barro cozido no rio Paraíba. Levaram a imagem para casa, onde atraiu devotos e operou milagres. No decorrer dos anos, muitas graças foram alcançadas pelos devotos da “Cidinha”, como carinhosamente é chamada.
Em muitos lugares do mundo se conta histórias semelhantes da origem humilde de uma devoção ou aparição de Nossa Senhora. Depois, quando o movimento cresce, a classe dominante percebe o alcance político do fenômeno religioso, manda construir capelas cada vez maiores, Igrejas e Basílicas. Inicia-se um processo de embelezamento dos fatos e das imagens e a integração na religiosidade oficial. Assim a pobre virgem de Nazaré se torna rainha dos cristãos. O povo gosta dessa ascensão social de suas devoções, sem considerar uma ameaça de seu protagonismo e imaginário religioso.
Meio ano depois da assinatura da Lei Áurea em O evento contou com a presença do Núncio Apostólico, bispos, o Presidente da República Rodrigues Alves e muitos fieis. Em
Entre a “Madona Negra”, a “Imaculada” e a “Aparecida” existem diferenças e semelhanças. A festa da Imaculada é celebrada 8 de dezembro e a festa da Aparecida, 12 de outubro. A “Madona Negra” não tem data determinada. A “Imaculada”, geralmente, é branca e sem filho. A imagem da “Aparecida” é também sem filho, mas negra. A “Aparecida” introduziu a negritude na “Imaculada” e a “Imaculada” introduziu a pureza na “Aparecida”. A “Aparecida” tem a cor em comum com a “Madona Negra”. Mas o triunfo da “Madona Negra” é o filho. A “Imaculada” espiritualizou o filho. Se a “Virgem Imaculada” foi redimida por Cristo de maneira preventiva, a sua mera existência de “Imaculada” pressupõe sempre o “Filho Redentor”.
Em 1823, na viagem de ida ao Chile, onde estaria por dois anos a serviço da nunciatura apostólica, o jovem sacerdote Giovanni Mastai-Ferreti, que 23 anos mais tarde seria eleito papa Pio IX (1846-1878), atracou com uma comitiva de religiosos por alguns dias no porto de Santos, SP. No dia 8 de dezembro, participou de uma procissão popular da Imaculada, que o impressionou. Em 1854, portanto 31 anos mais tarde, Giovanni Mastai-Ferreti, agora já como papa Pio IX, proclamou em Roma o dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria.
O pontificado de Pio IX era um pontificado de um perdedor vitorioso. Perdeu os Estados Pontifícios contra as forças progressistas, liberais e nacionais que lutavam pela unificação da Itália. Mas, ele compensou as perdas territoriais com vitórias ideológicas no campo religioso, onde proclamou os dogmas da Imaculada Conceição e da infalibilidade papal, condenou os erros do mundo moderno (Sílabo, 1864) e convocou o Concílio Vaticano I (1870). Na definição do dogma da Imaculada conciliou posições teológicas controversas. Confirmou, que Maria é imaculada, isenta de todo pecado. Mas, como se relaciona essa isenção com a necessidade de redenção? Maria tinha ou não tinha necessidade de ser redimida do pecado original por Cristo? Aí o dogma responde: a Virgem Maria foi redimida por Cristo de maneira preventiva, em previsão de seus méritos.
Assegurada a doutrina da Imaculada, Pio IX partiu para o ataque contra os “maculados”, articulando a força da argumentação teológica e da religiosidade popular contra posições políticas da sociedade secular, influenciadas pela Revolução Francesa (1789) e o Manifesto Comunista (1848). Em 1848, o papa teve que fugir de Roma. Quando voltou, dois anos mais tarde, com a ajuda de tropas franceses, Roma já era capital de uma República em processo de unificação. Até o fim de sua vida, Pio IX defendeu a tese, que a Imaculada legitimava sua luta contra todos os setores modernos, que se acreditavam imunes da mancha do pecado original, da qual só uma criatura foi preservada, Maria da Imaculada Conceição.