Exposição de presépios no Centro de São Paulo
- Ruchama Marton, de Israel, declarou que não é suficiente combater o machismo. Precisa mudar o mundo para mudar a discriminação das mulheres.
- Shree Krishna Upadhaya, de Nepal, ao finalizar a sua fala, citou Nelson Mandela: “A superação da pobreza não é um ato de caridade, mas um ato de justiça”.
- O Nigeriano Nnimmo Bassey se apresentou: “Eu estou diante de vocês não por uma causa individual, mas como um representante do povo sofrido nos campos de petróleo da Nigéria [...]. É claro, que para os níveis atuais da extração de petróleo, da acumulação e do consumo, a ética deve ser revisada e a impunidade deve ser destronada. [...] É a coragem das comunidades sofridas e dos povos resistentes contra a extração destrutiva que sustentam a nossa luta”.
Paulo Suess e D. Anders Arborelius |
Bandeira Sámi |
Primeira janela: Dom Pedro
Faz poucos dias que visitei com companheiros do Cimi o profeta Pedro, o grande e frágil D. Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Felix do Araguaia, entre 1971 e 2005. Para o dia de sua ordenação episcopal escreveu uma carta pastoral que marca o início da pastoral social no Brasil: “Uma igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”, segundo José de Souza Martins, um dos mais importantes documentos sociais da história contemporânea do Brasil. Homens como Pedro, que era um dos pais-fundadores do Cimi e da CPT, nascem só uma vez em cada século. A ele pertence a primeira janelinha do nosso calendário.
No dia da nossa visita (27.11.), Pedro estava em Goiânia, onde se recuperou de uma cirurgia. Magrinho e lúcido, como sempre, quase levitando. Falamos das eleições de Haití, da Agenda Latino-americana, da Romaría dos Mártires (16/17.07.2011) e do “bem viver”, do mundo andino. Estávamos chegando de um Seminário Nacional do Cimi sobre o mesmo tema.
Segunda janela: irmã Genoveva
Na mesma tarde visitamos ainda a Ir. Genoveva, das Irmãzinhas de Charles de Foucauld. Ela vive desde 1952 com os Tapirapé, um povo, que na época era reduzido a 50 indivíduos. „Depois do roubo de suas terras, os índios trabalhavam nas fazendas da região de São Felix. Pela presença de Ir. Genoveva e de suas companheiras, o povo reconstruiu seu habitat e recuperou a esperança em seu próprio futuro. O Cimi, que nasceu só vinte anos mais tarde, agradece muito às irmãzinhas dos Tapirapé. Sua missão não era supervisão ou conversão de pagãos, mas inculturação e diálogo de vida. Numa entrevista de 1984, Genoveva respondeu à pergunta sobre seu aprendizado com os índios: “Aprendi a vida prática. Aprendi a viver em comum, partilhar. A vida comunitária na tribo era mais radical que na Congregação. [...] Nossa preocupação é viver sem criar muitas coisas diferentes. O normal é viver até morrer com eles. Minha atividade na aldeia é a roça.” Quem olha no rosto de Genoveva e de Pedro, ambos com mais de 80 anos de vida, encontra sulcos profundos, nos quais a semente do evangelho está brotando. não vai substituir”. Wenn Du schon korrigierst, dann vielleicht auch, bei Genoveva ersetzen
Terceira janela: Dom Erwin
Escrevo essa postagem a caminho de Estocolmo, capital da Suecia, onde Dom Erwin Kraeutler, no dia 6 de dezembro, vai receber o Prémio Nobel Alternativo. D. Erwin é presidente do Cimi. Toda a sua vida lutou pelos pequenos, pelos índios, pelos menores abusados muito além de sua Prelazia de Xingu, PA. Seu caminho para Estocolmo é marcado por muito sofrimento. Em 1983, por causa de sua participação numa ação solidária com cortadores de cana-de-açúcar apanhou duramente da polícia militar; em 1987, D. Erwin sobrevive uma tentativa de mata-lo com um carro blindado; em 1995, um irmão de sua congregação, Hubert Mattle, é assassinado na sede da prelazia, em Altamira, e em 2005 mataram uma de suas agentes pastorais mais autênticas, a irmã Dorothy Stang. Por causa de ameaças concretas de assassinato, D. Erwin vive alguns anos, dia e noite, protegido por dois policiais. O Prêmio Nobel Alternativo não vai substituir o colete à prova de bala, que ele é obrigado a vestir, mas, quem sabe, pode se tornar uma capa de proteção da opinião pública, que agora zela mais vigilante por suas e nossas causas.
“Bem viver, desenvolvimento, governos de esquerda”
No penúltimo dia do encontro (24.11.2010), os participantes acompanharam exposições de pesquisadores e acadêmicos sobre Estado e Poder e os Governos de esquerda na América Latina. Movimentos sociais, Estado Nação, poder e bem viver indígena. Estes termos nortearam as discussões do penúltimo dia do Seminário do Cimi, que aconteceu em Luziânia-GO. Com as contribuições de Lino João, César Sanson, Pablo Dávalos, Cacique Babau e Maurício Guarani, os participantes discutiram “Estado e Poder”, os “Governos de esquerda na América Latina”, e as “Experiências indígenas do bem viver”.
César Sanson, pesquisador do CEPAT e parceiro do IHU, depois de fazer todo um apanhado sobre as crises energéticas, as crises ambientais, mudanças climáticas, ressaltou que os governos ditos de esquerda são sim grandes aceleradores desse modelo neo-desenvolvimentista. Cesar destacou que governos dos países latinoamericanos assumiram a heranöa do modelo desenvolvimentista dos anos 1950.
Se nas décadas de 1980 e 1990 o modelo neoliberal liderava com privatizações, reforma das instituições, capital internacional, campanha para que os países se inserissem no processo de globalização, os governos de esquerda da A.L. se elegeram contra esse processo com grande apoio dos movimentos sociais.
Segundo Sanson, os governos existentes hoje na A.L. são neo-desenvolvimentistas. “O papel do Estado é alavancar o desenvolvimento. Para isso ele aparece em três facetas: o Estado investidor, financiador e o Estado social”. O Estado banca grandes obras para alavancar o desenvolvimento, financiando para a exploração do capital privado; ele financia a fusão de grandes conglomerados para competir com empresas transnacionais e elabora programas sociais compensatórios, por exemplo o bolsa família.
Esse modelo cria tensões com os movimentos sociais. Sanson destacou que os indígenas são grandes entraves a essa lógica e por isso são tão perseguidos. “Os movimentos sociais em geral não podem se deixar iludir: a inclusão social não pode vir do consumo, mas da resolução de problemas”, declarou.
Ainda nesta discussão dos Estados Latino Americanos, o economista Pablo Dávalos destacou que poucas vezes na história houve tantos estados partilhando da mesma concepção. “É a mesma dinâmica de acumulação capitalista!”, afirmou. Mas para compreender como a A. L. chegou a essa situação, Dávalos voltou aos anos 1990, e destacou a forte atuação dos movimentos sociais em toda a América Latina. “Foram esse movimentos que derrotaram o neoliberalismo! E os partidos políticos se valeram desta energia dos movimentos para se elegerem.”, lembrou.
O economista também mostrou que os movimentos sociais foram se calando, se paralisando, após as eleições dos chamados partidos de esquerda. “Precisamos encontrar o fio de Ariadne para sairmos deste labirinto e recuperar a agenda dos movimentos sociais!”, finalizou.
Na tarde de ontem (24), dois indígenas puderam relatar suas experiências de Bem Viver. Os povos indígenas têm sua maneira própria de viver que foge da lógica do consumismo, das violências, do desrespeito à natureza, e faz com que sejam exemplos vivos do que se pôde entender nesses três dias de seminário sobre Bem Viver.
Rosivaldo Ferreira da Silva, mais conhecido como cacique Babau do Povo Tupinambá da Serra do Padeiro, relatou sua vida em comunidade, seu costumes, a forma de economia e de preservação da cultura e da memória dos antepassados de seu povo. Para ele, muito das violências que seu povo sofre é pelo fato de serem alegres, felizes e viverem em harmonia, o que revolta os fazendeiros, os depredadores da natureza, os representantes do capital. “Em nossas terras, não há violência doméstica, respeitamos a natureza, temos sistemas de roças comunitárias, aprimoramos a comercialização de nossos produtos em parceria com a nossa associação! Temos muita fartura, porque ninguém pode ter dignidade passando fome! Fazemos coleta seletiva, produzimos excedente como reserva, caso haja algum imprevisto”, relatou. Babau mostrou como respeitam a terra e os ciclos de vida. “Nosso modelo de vida é estável, a gente ri, é alegre, é feliz, a gente faz muita festa! Temos vida e vida com felicidade!”.
Segundo Babau, esse modo de vida causa incômodo e é por isso que muitos já tentaram subornar a comunidade para abandonarem a terra, mas o povo não aceitou e isso desesperou os inimigos.
Depois dos relatos de Babau, foi a vez de Maurício da Silva Gonçalves, liderança Guarani, falar do que é o Bem Viver para seu povo. “Antes do branco chegar a gente tinha o bem viver completo: tínhamos casa, caça, peixes, frutas nativas. Tínhamos o jeito de ser guarani. Mas quando o branco “descobriu” o Brasil, perdemos todo o nosso território!”, lembrou.
De acordo com Maurício, o povo Guarani perdeu todas as suas terras e é por isso que se vê o drama desse povo hoje. “A nossa grande luta é pelo reconhecimento de nosso território. A mata Atlântica, por exemplo, é território Guarani, e se estendia até Argentina, Paraguai”. Maurício destacou que o povo Guarani não tinha limites, não reconhecia o que era fronteira e até hoje esta memória é importante para dar forças nas lutas Guarani.
Na escuta da Palavra |
Maurício relatou que hoje a grande luta do povo Guarani é para conseguir seus direitos. “A lei garante nossas terras, mas isso não garante nada na prática. Nossas famílias vivem na beira das estradas, debaixo de lona. Os fazendeiros não querem nem que os indígenas fiquem perto de suas cercas. Guarani não existe mais, porque não temos terra, não podemos plantar!”, ressaltou. Ou seja, a terra é o principal fator que falta para que o povo Guarani retome o seu jeito de ser, seu Bem Viver (cf. http://www.cimi.org.br/).
Foto à direita: Babau recebe um telefonema da sua irmã da Bahia dando a boa notícia que as pessoas responsável pelo seu tempo na prisão (segurança máxima) agora são presos. Paulo Suess põe a bíblia no ouvido, o telefone da boa notícia.
frente ao modelo de desenvolvimento”
1. A ruptura constitucional e democrática, para sentar as bases de uma comunidade política inclusiva e reflexiva, que aposta à capacidade do país para definir outro rumo como sociedade justa, diversa, plurinacional, intercultural e soberana.
2. A ruptura ética para garantir a transparência que favorece o reconhecimento mutuo entre as pessoas e a confiança coletiva.
3. A ruptura econômica para superar o modelo de exclusão herdado e para orientar os recursos do Estado para a educação, saúde, investigação científica, tecnologia. Essa ruptura deve concretizar-se através da democratização do acesso à água e terra, ao crédito e conhecimento.
4. Ruptura social para que, através de uma política social articulada a uma política econômica inclusiva e mobilizadora, o Estado garante os direitos fundamentais.
5. Ruptura pela construção de dignidade, soberania e integração latino-americana.
O “sumak kawsay” propõe a incorporação da natureza na história, não como fator produtivo nem como força produtiva, mas como parte inerente ao ser social. Os seres humanos fazem parte da natureza. Como princípios e imperativos, o bem viver exige priorizar a vida, construir o consenso; respeitar as diferenças como complementaridade; levar uma vida equilibrada com todos os seres dentro de uma comunidade e com a natureza, escutar os anciãos.
O cristianismo compreende o bem viver como um bem viver do outro. Lutamos como servos para que ninguém precisa ser servo. Anunciamos o Reino de Deus como libertação da servidão, nos fazendo servos de todos.
Como cristãos podemos compreender a vida boa para todos como sabedoria do Reino de Deus que exige a luta e a contemplação. Essa contemplação nos conduz à ascese que liberta do supérfluo, para que todos possam ter o necessário. Ascese é o protesto contra nossa humilhação como consumidores e contra a exploração e a fome dos outros. O motivo profundo de ascese é solidariedade e participação. Ascese em sua forma individual pode significar conversão e ascese em sua forma comunitária e sociopolítica significa ruptura sistêmica e solidariedade. O bem viver para todos e para sempre, que é memória dos mártires e confessores, existe no horizonte da ressurreição.
Entre os dias 18 e 19 de novembro 2010, realizou-se na Universidade de Innsbruck, Austria, um Simpósio Missiológico com a temática: “Vida boa – para todos?”.
Ser feliz, como indivíduo, e viver bem, como ser social em família e sociedade são duas tarefas conjuntas que procuramos cumprir em nossa vida. Parecem duas tarefas contraditórias. No centro da primeira está a felicidade própria do indivíduo, o núcleo da segunda é a moral da sociedade, os costumes e prescrições da cultura, a virtude e a lei da sociedade com seu imperativo categórico. Temos exemplos históricos que mostram, que é possível esmagar o indivíduo pelo coletivo como tempos exemplos do contrário que nos mostram como o indivíduo com sua igualdade e liberdade, que são grandes e perigosas conquistas da modernidade, se impõe à coletividade através de privilégios herdados ou prestígios sociais conquistados. Praticamente todas as lutas sociais representam tentativas de equilibrar felicidade individual e moral social.
O evento foi organizado pelo “Instituto de Teologia Prática” da Faculdade de Teologia Católica (www.uibk.ac.at/praktheol).
Para nós, da Escola Missiológica de São Paulo, foi um reencontro particularmente grato. Não só o jubilar, Franz Weber, estudou um ano conosco. Também Franz Helm, que se doutorou com um trabalho sobre Ricci e Acosta (comparação de dois catecismos) em São Paulo, maracou presença e coordenou um dos Workshops. Também o professor Johannes Meier, Mainz, que administrou um curso na então Missiologia da Assunção, se fez presente.
Caminhando para Aparecida do Norte
A imagem original de Nossa Senhora Aparecida é uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, que precede por muitos séculos a proclamação do dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria. Três pescadores encontraram, no dia 12 de outubro de 1717, uma imagem de barro cozido no rio Paraíba. Levaram a imagem para casa, onde atraiu devotos e operou milagres. No decorrer dos anos, muitas graças foram alcançadas pelos devotos da “Cidinha”, como carinhosamente é chamada.
Em muitos lugares do mundo se conta histórias semelhantes da origem humilde de uma devoção ou aparição de Nossa Senhora. Depois, quando o movimento cresce, a classe dominante percebe o alcance político do fenômeno religioso, manda construir capelas cada vez maiores, Igrejas e Basílicas. Inicia-se um processo de embelezamento dos fatos e das imagens e a integração na religiosidade oficial. Assim a pobre virgem de Nazaré se torna rainha dos cristãos. O povo gosta dessa ascensão social de suas devoções, sem considerar uma ameaça de seu protagonismo e imaginário religioso.
Meio ano depois da assinatura da Lei Áurea em
Entre a “Madona Negra”, a “Imaculada” e a “Aparecida” existem diferenças e semelhanças. A festa da Imaculada é celebrada 8 de dezembro e a festa da Aparecida, 12 de outubro. A “Madona Negra” não tem data determinada. A “Imaculada”, geralmente, é branca e sem filho. A imagem da “Aparecida” é também sem filho, mas negra. A “Aparecida” introduziu a negritude na “Imaculada” e a “Imaculada” introduziu a pureza na “Aparecida”. A “Aparecida” tem a cor em comum com a “Madona Negra”. Mas o triunfo da “Madona Negra” é o filho. A “Imaculada” espiritualizou o filho. Se a “Virgem Imaculada” foi redimida por Cristo de maneira preventiva, a sua mera existência de “Imaculada” pressupõe sempre o “Filho Redentor”.
Caminhando para Aparecida do Norte
Aparecida do Norte é um santuário de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Sua devoção é antiga, sua teologia era controvertida (entre Duns Escoto e Tomás de Aquino), seu dogma é recente.
Em 1823, na viagem de ida ao Chile, onde estaria por dois anos a serviço da nunciatura apostólica, o jovem sacerdote Giovanni Mastai-Ferreti, que 23 anos mais tarde seria eleito papa Pio IX (1846-1878), atracou com uma comitiva de religiosos por alguns dias no porto de Santos, SP. No dia 8 de dezembro, participou de uma procissão popular da Imaculada, que o impressionou. Em 1854, portanto 31 anos mais tarde, Giovanni Mastai-Ferreti, agora já como papa Pio IX, proclamou em Roma o dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria.
O pontificado de Pio IX era um pontificado de um perdedor vitorioso. Perdeu os Estados Pontifícios contra as forças progressistas, liberais e nacionais que lutavam pela unificação da Itália. Mas, ele compensou as perdas territoriais com vitórias ideológicas no campo religioso, onde proclamou os dogmas da Imaculada Conceição e da infalibilidade papal, condenou os erros do mundo moderno (Sílabo, 1864) e convocou o Concílio Vaticano I (1870). Na definição do dogma da Imaculada conciliou posições teológicas controversas. Confirmou, que Maria é imaculada, isenta de todo pecado. Mas, como se relaciona essa isenção com a necessidade de redenção? Maria tinha ou não tinha necessidade de ser redimida do pecado original por Cristo? Aí o dogma responde: a Virgem Maria foi redimida por Cristo de maneira preventiva, em previsão de seus méritos.
Assegurada a doutrina da Imaculada, Pio IX partiu para o ataque contra os “maculados”, articulando a força da argumentação teológica e da religiosidade popular contra posições políticas da sociedade secular, influenciadas pela Revolução Francesa (1789) e o Manifesto Comunista (1848). Em 1848, o papa teve que fugir de Roma. Quando voltou, dois anos mais tarde, com a ajuda de tropas franceses, Roma já era capital de uma República em processo de unificação. Até o fim de sua vida, Pio IX defendeu a tese, que a Imaculada legitimava sua luta contra todos os setores modernos, que se acreditavam imunes da mancha do pecado original, da qual só uma criatura foi preservada, Maria da Imaculada Conceição.