III. Seminário Nacional de Formação do Cimi:
“O sonho e a realidade do `bem viver´
frente ao modelo de desenvolvimento”
(22-25.11.2010, Brasília)
No Seminário Nacional do Cimi, o núcleo central da reflexão é o “bem viver”, o sumak kawsay dos povos andinos. Veio do Equador o economista e assessor do movimento indígena, Pablo Dávalos, para explicar aos mais de 100 participantes do “Seminário de Formação” esse novo paradigma político que visa cinco rupturas profundas com o sistema do capitalismo tardio em curso.
1. A ruptura constitucional e democrática, para sentar as bases de uma comunidade política inclusiva e reflexiva, que aposta à capacidade do país para definir outro rumo como sociedade justa, diversa, plurinacional, intercultural e soberana.
2. A ruptura ética para garantir a transparência que favorece o reconhecimento mutuo entre as pessoas e a confiança coletiva.
3. A ruptura econômica para superar o modelo de exclusão herdado e para orientar os recursos do Estado para a educação, saúde, investigação científica, tecnologia. Essa ruptura deve concretizar-se através da democratização do acesso à água e terra, ao crédito e conhecimento.
4. Ruptura social para que, através de uma política social articulada a uma política econômica inclusiva e mobilizadora, o Estado garante os direitos fundamentais.
5. Ruptura pela construção de dignidade, soberania e integração latino-americana.
O “sumak kawsay” propõe a incorporação da natureza na história, não como fator produtivo nem como força produtiva, mas como parte inerente ao ser social. Os seres humanos fazem parte da natureza. Como princípios e imperativos, o bem viver exige priorizar a vida, construir o consenso; respeitar as diferenças como complementaridade; levar uma vida equilibrada com todos os seres dentro de uma comunidade e com a natureza, escutar os anciãos.
O cristianismo compreende o bem viver como um bem viver do outro. Lutamos como servos para que ninguém precisa ser servo. Anunciamos o Reino de Deus como libertação da servidão, nos fazendo servos de todos.
Como cristãos podemos compreender a vida boa para todos como sabedoria do Reino de Deus que exige a luta e a contemplação. Essa contemplação nos conduz à ascese que liberta do supérfluo, para que todos possam ter o necessário. Ascese é o protesto contra nossa humilhação como consumidores e contra a exploração e a fome dos outros. O motivo profundo de ascese é solidariedade e participação. Ascese em sua forma individual pode significar conversão e ascese em sua forma comunitária e sociopolítica significa ruptura sistêmica e solidariedade. O bem viver para todos e para sempre, que é memória dos mártires e confessores, existe no horizonte da ressurreição.

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