Calendário do Advento:
o profeta Pedro, a sábia Genoveva, o confessor Erwin
Um calendário do Advento tem 24 janelinhas que conduzem crianças e adultos ao presépio. Nosso calendário tem apenas três janelas. Assim podemo-nos debruçar oito dias sobre cada uma dessas figuras que, através da janelinha, olhem para nós: o profeta Pedro, a sábia Genoveva e o confessor Erwin.
Primeira janela: Dom Pedro
Faz poucos dias que visitei com companheiros do Cimi o profeta Pedro, o grande e frágil D. Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Felix do Araguaia, entre 1971 e 2005. Para o dia de sua ordenação episcopal escreveu uma carta pastoral que marca o início da pastoral social no Brasil: “Uma igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”, segundo José de Souza Martins, um dos mais importantes documentos sociais da história contemporânea do Brasil. Homens como Pedro, que era um dos pais-fundadores do Cimi e da CPT, nascem só uma vez em cada século. A ele pertence a primeira janelinha do nosso calendário.
No dia da nossa visita (27.11.), Pedro estava em Goiânia, onde se recuperou de uma cirurgia. Magrinho e lúcido, como sempre, quase levitando. Falamos das eleições de Haití, da Agenda Latino-americana, da Romaría dos Mártires (16/17.07.2011) e do “bem viver”, do mundo andino. Estávamos chegando de um Seminário Nacional do Cimi sobre o mesmo tema.

Segunda janela: irmã Genoveva
Na mesma tarde visitamos ainda a Ir. Genoveva, das Irmãzinhas de Charles de Foucauld. Ela vive desde 1952 com os Tapirapé, um povo, que na época era reduzido a 50 indivíduos. „Depois do roubo de suas terras, os índios trabalhavam nas fazendas da região de São Felix. Pela presença de Ir. Genoveva e de suas companheiras, o povo reconstruiu seu habitat e recuperou a esperança em seu próprio futuro. O Cimi, que nasceu só vinte anos mais tarde, agradece muito às irmãzinhas dos Tapirapé. Sua missão não era supervisão ou conversão de pagãos, mas inculturação e diálogo de vida. Numa entrevista de 1984, Genoveva respondeu à pergunta sobre seu aprendizado com os índios: “Aprendi a vida prática. Aprendi a viver em comum, partilhar. A vida comunitária na tribo era mais radical que na Congregação. [...] Nossa preocupação é viver sem criar muitas coisas diferentes. O normal é viver até morrer com eles. Minha atividade na aldeia é a roça.” Quem olha no rosto de Genoveva e de Pedro, ambos com mais de 80 anos de vida, encontra sulcos profundos, nos quais a semente do evangelho está brotando. não vai substituir”. Wenn Du schon korrigierst, dann vielleicht auch, bei Genoveva ersetzen

Terceira janela: Dom Erwin
Escrevo essa postagem a caminho de Estocolmo, capital da Suecia, onde Dom Erwin Kraeutler, no dia 6 de dezembro, vai receber o Prémio Nobel Alternativo. D. Erwin é presidente do Cimi. Toda a sua vida lutou pelos pequenos, pelos índios, pelos menores abusados muito além de sua Prelazia de Xingu, PA. Seu caminho para Estocolmo é marcado por muito sofrimento. Em 1983, por causa de sua participação numa ação solidária com cortadores de cana-de-açúcar apanhou duramente da polícia militar; em 1987, D. Erwin sobrevive uma tentativa de mata-lo com um carro blindado; em 1995, um irmão de sua congregação, Hubert Mattle, é assassinado na sede da prelazia, em Altamira, e em 2005 mataram uma de suas agentes pastorais mais autênticas, a irmã Dorothy Stang. Por causa de ameaças concretas de assassinato, D. Erwin vive alguns anos, dia e noite, protegido por dois policiais. O Prêmio Nobel Alternativo não vai substituir o colete à prova de bala, que ele é obrigado a vestir, mas, quem sabe, pode se tornar uma capa de proteção da opinião pública, que agora zela mais vigilante por suas e nossas causas.

Um comentário:

  1. Se todos os que nos chamamos cristãos tivessemos a oportunidade de olhar por estas três grandes janelas e aprender da sabedoria ali contida, nossa sociedade seria bem diferente.
    Prezado companheiro e amigo Paulo, valeu a iniciativa. Quem reconhece o passo de Deus na vida dos outros se abre a sua açao tambem na propria vida. talvez alguma dia todos aprendamos a viver não das normas mas sim dos ensinamentos dos pequeninos.
    Vivamos o ADVENTO E O NATAL como tempo de graça e nova oportunidade para o BEM VIVIR....

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