Mais de 500 indígenas, de 100 povos diferentes de todo
Brasil, estão reunidos em Brasília até esta quinta-feira (29) para protestar em
defesa dos direitos territoriais dos povos indígenas garantidos na
Constituição. Na manhã de hoje (27), os manifestantes irão protocolar uma
queixa-crime contra os deputados ruralistas Luís Carlos Heinze (PP-RS) e Alceu
Moreira (PMDB-RS) no Supremo Tribunal Federal (STF). Na sequência, será feita
uma pajelança na Praça dos Três Poderes em defesa dos direitos indígenas.
Em novembro, durante audiência pública em Vicente Dutra
(RS), Heinze disse que índios, quilombolas, gays e lésbicas são “tudo o que não
presta”. Na mesma audiência, ele e Moreira defenderam que os produtores rurais
contratassem segurança privada para expulsar índios das terras que consideram
como suas. Em dezembro, Heinze voltou a ofender índios, quilombolas e gays. As
declarações foram gravadas.
Na quarta (28), às 9h, está confirmada uma audiência
pública, no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, em defesa da agenda
legislativa indígena.
Você pode acompanhar as atividades da Mobilização
Nacional Indígena ao vivo no canal do Greenpeace no Livestream e do cineasta
indígena Kamikia Kĩsedje no TwitCasting.
Nessa segunda, as delegações vindas de todo o Brasil
reuniram-se em assembleia, no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia
(GO), para denunciar as violências e violações de direitos sofridas em varias
regiões. “Hoje tentam usurpar o direito dos povos indígenas e da natureza. Isso
vai repercutir para todo mundo. Depois começam a retirar os direitos de outros
grupos e a sociedade não discute nada, não sabe de nada”, afirmou Lindomar
Terena, logo após ler uma carta-denúncia (leia aqui) da Apib apresentada no
Fórum Internacional dos Povos Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU).
“A terra indígena é um direito originário e então o
governo precisa demarcar nossos territórios. No processo histórico, está claro
que nós não provocamos o conflito que hoje aí está. O Estado e seus governantes
tiraram a gente das terras, sobretudo no século passado, e deram títulos para
quem foi colocado nelas. Para os indígenas, a terra é mãe, é sagrada. Nunca
vamos desistir delas”, pontuou Sônia Guajajara, também da coordenação da Apib.
Em abril de 2013, os povos indígenas ocuparam o
plenário da Câmara Federal, em protesto contra as várias propostas legislativas
anti-indígenas. Em outubro, a Mobilização Nacional Indígena reuniu milhares de
pessoas, no Brasil e em algumas cidades do exterior, no maior conjunto de manifestações
em defesa dos direitos indígenas desde a Constituinte de 1988 (saiba mais).
Ataque aos direitos indígenas
Os novos protestos em Brasília ocorrem num cenário de
continuidade do ataque generalizado aos direitos indígenas, em especial os
direitos territoriais, da parte de vários setores do governo e de um conjunto
de atores políticos e econômicos capitaneados pela bancada ruralista no
Congresso Nacional.
Um dos principais objetivos da mobilização é impedir a
aprovação da série de projetos contra os direitos indígenas em tramitação no
parlamento, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, que pretende
transferir aos congressistas a atribuição de aprovar a demarcação das Terras
Indígenas (TIs); o Projeto de Lei (PLP) 227, que visa abrir essas áreas à
exploração econômica; o PL 1.610, que regulamenta a mineração nas TIs, entre
vários outros.
Também serão alvos dos protestos, entre outras medidas
do governo, a proposta de alteração do procedimento de demarcação das TIs do
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e a Portaria 303 da Advocacia-Geral
da União (AGU), que objetiva generalizar a todas as TIs as condicionantes
definidas para a TI Raposa Serra do Sol (RR), contrariando decisão do STF. Na
prática, todas essas propostas do Executivo e do Legislativo pretendem
paralisar definitivamente os processos de demarcação, já suspensos pelo governo
federal.
Enquanto isso, a tramitação de projetos importantes
para consolidar os direitos indígenas e que são bandeiras do movimento
indígena, como o Estatuto dos Povos Indígenas e o Conselho Nacional de Política
Indigenista (CNPI), está paralisada há anos nos corredores do Congresso, sem
qualquer avanço. A Mobilização Nacional Indígena também defende a aprovação
dessas duas propostas.
A Mobilização é promovida pela Apib, com apoio do
Centro de Trabalho Indigenista (CTI), Conselho Indigenista Missionário (Cimi),
Instituto Socioambiental (ISA), Greenpeace, Instituto de Educação do Brasil
(IIEB), entre outras organizações indígenas e indigenistas.
Apib repudia violência e repressão
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) vem a
público repudiar a violenta e despropositada ação da Polícia Militar do
Distrito Federal, que reprimiu na tarde desta terça-feira, 27/05, ato pacífico
em que participavam cerca de 600 lideranças indígenas de todo o país.
Por volta das 17h40 os indígenas, que estão em Brasília
participando da Mobilização Nacional em Defesa dos Direitos Territoriais de
seus povos, se uniram ao ato convocado pelo Comitê Popular da Copa - DF e
marchavam tranquilamente em direção ao Estádio Nacional Mané Garrincha quando
foram surpreendidos pela Cavalaria da Polícia com bombas de gás lacrimogêneo e
de efeito moral, spray de pimenta e tiros de bala de borracha.
O Tenente Coronel Moreno, da Polícia Militar, havia
feito acordo com o Comitê Popular da Copa para assegurar a chegada do protesto
pacífico ao Estádio Nacional Mané Garrincha. Porém, quando os manifestantes se
aproximaram do estádio, começaram a ser atacados pela polícia.
Seis lideranças indígenas foram atingidas por balas de
borracha, entre elas uma mulher do povo Pankararu, do Nordeste. Um fotógrafo da
Agência Reuters sofreu ferimento na perna por resquícios da explosão de uma
bomba de efeito moral. Um padre que acompanhava o povo Xerente foi atingido na
mão por uma bala de borracha. Além dos feridos, três manifestantes foram
presos.
Diante desses fatos, exigimos a apuração imediata dos
abusos cometidos pela polícia que são parte da estratégia de criminalização dos
movimentos sociais e dos nossos povos.
Brasília-DF, 27 de maio de 2014.
Na condição de cidadã e militante na defesa dos direitos humaos, manifesto minha solidariedade à Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), bem como o repúdio à repressão violenta e descabida da Polícia Militar do Distrito federal, ao ato pacífico, protagonizado pelas lideranças indígenas e demais movimentos sociais, considerando a legitimidade da manifestação, em consonância com as garantias estabelecidas na Constituição Federal Brasileira.
ResponderExcluir