O
ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela morreu aos 95 anos em Pretória,
nesta quinta-feira (5), anunciou o atual presidente, Jacob Zuma. Mandela ficou
internado de junho a setembro devido a uma infecção pulmonar. Morreu às 20h50, no horário local de Pretória. "Ele
partiu, ele se foi pacificamente na companhia de sua família”, afirmou o
presidente. “Nossa nação perdeu seu maior
filho. Nosso povo perdeu seu pai.”
Conhecido
como “Madiba” na África do Sul, ele foi considerado um dos maiores heróis da
luta dos negros pela igualdade de direitos no país e foi um dos principais
responsáveis pelo fim do regime racista do apartheid, vigente entre 1948 a
1993.
Ficou
preso durante 27 anos e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1993. Foi eleito em
1994 o primeiro presidente negro da África do Sul, nas primeiras eleições
multirraciais sul-africanas.
Em
1952, já presidente da Liga Jovem do Congresso Nacional Africano, foi escolhido
líder da campanha de oposição contra seis leis consideradas injustas. Acusado
sob a Lei de Supressão do Comunismo, foi preso e condenado a trabalhos
forçados.
Havia
algum tempo sua saúde frágil o impedia de fazer aparições públicas na África do
Sul - a última foi durante a Copa do Mundo de 2010, realizada no país.
Biografia
Mandela
nasceu em 18 de julho de 1918 no clã Madiba no vilarejo de Mvezo, no antigo
território de Transkei, sudeste da África do Sul. Seu pai, Henry Gadla
Mphakanyiswa, era chefe do vilarejo e teve quatro mulheres e 13 filhos -
Mandela nasceu da terceira mulher, Nosekeni. Seu nome original era Rolihlahla
Mandela.
Após
seu pai morrer em 1927, ele foi acolhido pelo rei da tribo, Jongintaba
Dalindyebo. Ele cursou a escola primária no povoado de Qunu e recebeu o nome
Nelson de uma professora, seguindo uma tradição local de dar nomes cristãos às
crianças. Conforme as tradições Xhosa, ele foi iniciado na sociedade aos 16
anos, seguindo para o Instituto Clarkebury, onde estudou cultura ocidental. Na
adolescência, praticou boxe e corrida.
Mandela
ingressou na Universidade de Fort Hare para cursar artes, mas foi expulso por
participar de protestos estudantis. Ele completou os estudos na Universidade da
África do Sul. Após terminar os estudos, o rei Jongintaba anunciou que Mandela
devia se casar, o que motivou o jovem a fugir e se mudar para Johanesburgo, em
1941.
Em
Johanesburgo, ele trabalhou como segurança de uma mina e começou a se
interessar por política. Na cidade, Mandela também conheceu o corretor de
imóveis Walter Sisulu, que se tornou seu grande amigo pessoal e mentor no
ativismo antiapartheid. Por indicação de Sisulu, Mandela começou a trabalhar
como aprendiz em uma firma de advocacia e se inscreveu na faculdade de direito
de Witwatersrand.
Mandela
começou a frequentar informalmente as reuniões do Congresso Nacional Africano
(CNA) em 1942. Em 1944, ele fundou a Liga Jovem do Congresso e se casou com a
prima de Walter Sisulu, a enfermeira Evelyn Mase. Eles tiveram quatro filhos
(dois meninos e duas meninas) – uma das garotas morreu ainda na infância.
Em
1948, ele se tornou secretário nacional do Congresso Nacional Africano (CNA) –
no mesmo ano, o Partido Nacional ganhou as eleições do país e começou a
implementar a política de apartheid (ou segregação racial). O estudante conheceu
futuros colegas da política na faculdade, mas abandonou o curso em 1948,
admitindo ter tido notas baixas - ele chegou a retomar a graduação na
Universidade de Londres, mas só se formou em 1989 pela Universidade da África
do Sul, quando estava preso.
Em
1951, Mandela se tornou presidente do CNA. Em 1952, ele abriu com o amigo
Oliver Tambo o primeiro escritório de advocacia do país voltado para negros. No
mesmo ano, Mandela foi escolhido como líder da campanha de oposição encabeçada
pelo CNA e viajou pelo país, em protesto contra seis leis consideradas
injustas. Como reação do governo, ele e 19 colegas foram presos e sentenciados
a nove meses de trabalho forçado.
Em
1955, ele ajudou a articular o Congresso do Povo e citava a política pacifista
de Gandhi como influência. A reunião uniu a oposição e consolidou as ideias
antiapartheid em um documento chamado Carta da Liberdade. No fim do ano,
Mandela foi preso juntamente com outros 155 ativistas em uma série de detenções
pelo país.
Em
1963, Mandela e outras nove pessoas foram julgados por sabotagem, no que ficou
conhecido como Julgamento Rivonia. Sob o risco de ser condenado à pena de
morte, Mandela fez um discurso à corte que foi imortalizado.
“Eu
lutei contra a dominação branca, e lutei contra a dominação negra. Eu cultivei
o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem
juntas em harmonia e com oportunidades iguais. Este é um ideal pelo qual eu
espero viver e alcançar. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou
preparado para morrer”, afirmou. Em 1964, Mandela e outros sete colegas foram
condenados por sabotagem e sentenciados à prisão perpétua. Um deles, Denis
Goldberg, foi preso em Pretória por ser branco. Os outros foram levados para a
Ilha de Robben.
27
anos de prisão
Mandela
passou 18 anos detido na ilha de Robben, na costa da Cidade do Cabo, e nove na
prisão Pollsmoor, no continente – a transferência ocorreu em 1982. Enquanto
esteve preso, Mandela perdeu sua mãe, que morreu em 1968, e seu filho mais
velho, morto em 1969. Ele não foi autorizado a participar dos funerais.
Durante
o período em que ficou preso, sua reputação como líder negro cresceu e
sedimentou a imagem de liderança do movimento antiapartheid. A partir de 1985,
ele iniciou o diálogo sobre sua libertação com o Partido Nacional, que exigia
que ele não voltasse à luta armada.
Em
2 de fevereiro de 1990, o presidente sul-africano Frederik Willem de Klerk
reinstituiu o Congresso Nacional Africano (CNA). No dia 11 de fevereiro de
1990, Mandela foi solto e, em um evento transmitido mundialmente, disse que
continuaria lutando pela igualdade racial no país.
Prêmio
Nobel e presidência
Em
1991, Mandela foi eleito novamente presidente do CNA. Nelson Mandela e Frederik
de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz em 1993, por seus esforços para trazer
a paz ao país. Mandela encabeçou uma série de articulações políticas que
culminaram nas primeiras eleições democráticas e multirraciais do país em 27 de
abril de 1994.
O
CNA ganhou com 62% dos votos, enquanto o Partido Nacional teve 20%. Com o
resultado, Mandela tornou-se o primeiro líder negro do país e também o mais
velho, com 75 anos. Ele tomou posse em 10 de maio de 1994. A gestão do
presidente foi marcada por políticas antiapartheid, reformas sociais e de
saúde.
Em
1996, Mandela se divorciou de Nomzamo Winnie Madikizela por divergências
políticas que se tornaram públicas. Em 1998, no dia de seu 80º aniversário, ele
se casou com Graça Machel, viúva de Samora Machel, antigo presidente
moçambicano.
Em
1999, não se candidatou à reeleição e se aposentou da carreira política. Desde
então, ele passou boa parte de seu tempo em sua casa no vilarejo de Qunu, onde
passou a infância, na província pobre do Cabo Leste. Em 2008, a comemoração de
seu aniversário de 90 anos foi um ato público em seu país e no exterior. Em
novembro de 2009, a ONU anunciou que o dia de seu aniversário seria celebrado
em todo o mundo como o Dia Internacional de Mandela, uma iniciativa para
estimular todos os cidadãos a dedicar 67 minutos a causas sociais - um minuto
por ano que ele dedicou a lutar pela igualdade racial e para o fim do
apartheid.
[fonte: G1, São Paulo]
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