BONS VENTOS: Potencial eólico do país supera o hidrelétrico

 Projeção de geração de energia salta de 143 GW para pelo menos 300 GW

Vivian Oswald


Em menos de uma década, a energia que vem dos ventos conquistou espaço no mercado brasileiro, atraiu investimentos bilionários e tem hoje potencial superior ao hidrelétrico. Levantamento inédito da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com base nas informações recebidas pelas empresas, está redimensionando de 143 gigawatts (GW) para pelo menos 300 GW o potencial de geração de energia eólica no país. No caso da hidreletricidade são estimados 261 GW.

Os dados farão parte de um sistema que já está pronto, mas que só deve se tornar público no fim do ano. A ideia é garantir ao mercado o maior número de informações sobre os ventos e as localidades de maior incidência em tempo real, segundo o presidente da EPE, Mauricio Tolmasquim.
  Brasil é o 12º mercado mais atrativo do setor



É atrás desses bons ventos que grandes multinacionais estão desembarcando no país. O Brasil tornou-se o 12º mercado mais atraente do mundo para negócios em energia renovável e pode subir para a 10ª posição até o fim deste ano, no ranking da Ernst & Young Terco para 35 países, segundo antecipou ao GLOBO o sócio da área de transações da consultoria, Luiz Claudio Campos. Esta é a melhor posição que o Brasil já atingiu no ranking, que não inclui as hidrelétricas por não considerá-las tão verdes - disse.

A China se mantém na liderança, sendo seguida dos Estados Unidos

 As companhias do setor já não esperam nem sequer os leilões realizados pelo governo e começaram, este ano, a negociar energia eólica no mercado livre, o que também é inédito. É o caso da belga Tractebel Energia. A Eletrosul, que deve aumentar de 15 para 45 torres o número de aerogeradores - como são chamados os imensos ventiladores que produzem energia eólica - no parque de Cerro Chato, no Rio Grande do Sul, se prepara para entrar no mercado livre também.
[do site do Ministério das Relações Exteriores, 24.7.2011]

25 de julho: Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha

Vivam as mulheres negras!



 O dia 25 de julho foi instituído pela ONU, como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino americana e Caribenha, durante o I Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, em Santo Domingo, na República Dominicana, no ano de 1992. Definiu-se que este dia seria o marco internacional da luta e resistência da mulher negra. Desde então, vários setores da sociedade têm atuado para consolidar e dar visibilidade a esta data, tendo em conta a condição de opressão de gênero, raça e etnia vivida pelas mulheres negras latino-americanas e caribenhas.

A situação da mulher negra no Brasil de hoje manifesta um prolongamento da sua realidade no período de escravidão, com poucas mudanças, pois ela continua em último lugar na escala social e é quem mais carrega as desvantagens do sistema injusto e racista do país. Inúmeras pesquisas realizadas nos últimos anos mostram que a mulher negra apresenta menor nível de escolaridade e trabalha mais com menor salário.
A seguir algumas mulheres negras em homenagem a todas:

Anastácia, século 18


Ruth de Souza (1921)

Jovelina Pérola Negra (1944-1998)
Zezé Motta (1948)
Alcione (1947)
Leci Brandão (1944)

Elza Soares (1937)



Lembrar é reagir! Esquecer é repetir

Memória da Chacina da Candelária


Madrugada do dia 23 de julho de 1993. Vários carros param em frente à Igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro. Os ocupantes dos carros - policiais militares, em sua maioria, e civís - abrem fogo contra 72 crianças e adolescentes que estão dormindo nas proximidades da Igreja. Seis crianças e dois adolescentes assassinados, outros feridos.  trs e adolescentes, sem julgamento e sem

Candelária nunca mais!

Quinta-feira, die 21 de julho, das 18 às 22 horas, em frente à Igreja da Candelária, uma Vigília Ecumênica das Mães que perderam seus filhos na Chacina da Candelária. A celebração alertou a todos para que uma atrocidade como a da Candelária não se repita mais. Na sexta-feira (22), às 10 horas, foi celebrada uma Missa pelos 18 anos de morte dos Meninos da Chacina, na Igreja da Candelária. Em seguida, realizou-se a “Caminhada em Defesa da Vida! Candelária nunca mais!”

Maria do Rosário lembrou das "mães de maio da Baixada Santista, das mães do Espírito Santo e das mães de Realengo", pedindo que elas "encontrem em Deus a força para seguir adiante". Pais e alunos da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, onde 12 crianças foram mortas este ano por atirador, ex-aluno, também participaram da vigília, da missa e da caminhada.

Sábado, dia 23, mães de vítimas da violência policial e representantes de instituições de defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes participaram de outra manifestação de memória e protesto. De braços dados, reunidas diante da igreja, em torno da cruz com os nomes dos oito jovens mortos na chacina, o grupo de mulheres exibiu fotos de seus filhos desaparecidos, orou e soltou balões grafados com a palavra paz.

Durante o ato, uma lista como nome de 40 crianças e adolescentes mortos ou desaparecidos foi lida pela representante do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente Maria de Fátima Pereira da Silva. A entidade colocou sobre o gramado da praça em frente à igreja um cartaz com os dizeres: A Paz no Rio de Janeiro é possível; faça a sua parte.


Hoje, em frente à igreja há um pequeno monumento que relembra à chacina. Ele é constituido por uma cruz de madeira, que tem inscrito os nomes dos jovens assassinados, e uma placa de concreto. Esta mesma sofreu aparentemente ações de vandalismo, pois está bastante danificada, desmembrada do seu suporte e com sua epígrafe ilegível. Esse fato lembra de um outro vandalismo. Na véspera da Romaría dos Mártires, de Ribeirão Cascalheira, MT, o cartaz que lembrava o assassinado do padre João Bosco Penido Burnier, em 11 de outubro de 1976, foi desmontado e substituído por um outro com o epígrafe: “Índio bom é índio morto”. Lembrar é reagir! Esquecer é repetir! Indignai-vos!
P.S. 25.7.2011

Romaria dos Mártires: Vidas pela vida, vidas pelo Reino (4)





Caminhada, ação de graças,
envio, depedida

D. Leonardo e D. Pedro na acolhida

A manhã do domingo, 17 de julho, estava luminosa pelo sol e a beleza de cores, no espaço, atrás do Santuário dos Mártires, preparado para a Missa de despedida da Romaria, concelebrada pelos bispos D. Leonardo, D. Eugênio, bispo da cidade de Goiás e pelo próprio D. Pedro e mais de 30 padres.
Presença Xavante
Toda celebração teve como foco principal a vitória pascal de Jesus e de todas as testemunhas da Ressurreição, desde os discípulos de Emaús (Lc 24,13), lembrando a multidão dos que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro (Ap 7,9) e de quem, neste tempo presente, mantém a fidelidade à causa maior da vida!

Após a comunhão, ainda alguns testemunhos e denúncias, pela boca dos representantes indígenas; Cacique Marcos e sua mãe, do povo Xucuru, de Pernambuco, que fez uma bela prece aos Encantados, pela proteção da terra e dos seres vivos. Os Xavante, na dura luta pela retomada de sua terra tradicional Marãiwatsédé, no Mato Grosso, de onde foram deportados na década de 1960 e que retomaram em 2004 (...).

Antes da benção e envio final, a mensagem emocionada de Pedro, temperada de carinho, profecia e convocação para a fidelidade no testemunho pascal: “multipliquem as romarias dos mártires da caminhada! Esta, possivelmente, será minha última Romaria com os pés nesta terra”.

Com esta mensagem (...), romeiros e romeiras da Caminhada, nos despedimos, para as longas viagens de volta, com os corações unidos e aquecidos na fogueira da esperança para a missão urgente, assumida, sem reserva, até o fim, por tantas testemunhas do reinado pleno e eterno da Vida para todas as vidas: João, Chicão, Marçal, Zumbi, Conselheiro, Margarida, Yé Claudio, Maria, Dorothy, Nativo...
 
Pedro e Paulo: depedida

Zé Vicente (zvi@uol.com.br)

Fortaleza, 19 de julho de 2011
[fotos: P. Altevir; texto integral em: ADITAL]

Romaria dos Mártires: ascender a luz da Caminhada no Círio Pascal (3)


[vídeo: Egon e Laila]

Curso de especialização missiológica em Curitiba

Formação de animadores missionários





 A Família Passionista, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná, e com o reconhecimento do MEC, promove curso de pós-graduação em Missiologia com duração de 360 horas. As aulas são administradas durante as férias em Curitiba-PR.


Prof. Joana Puntel:
Meios de Comunicação a serviço da Missão

Prof. Luiz Fernando Lisboa:
ex-aluno da Missiologia de S. Paulo e iniciador do Curso
[Informações: sirley.vieira@hotmail.com]

Testemunhas do Reino - Profetas da Vida (2)



D. Pedro Casaldáliga: a testemunha fiel

Ribeirão Cascalheira


Era a tarde do dia 11 de outubro de 1976. Duas mulheres sertanejas, Margarida e Santana, estavam sendo torturadas na cadeia-delegacia de Ribeirão Bonito, Mato Grosso, lugar e hora de latifúndio prepotente, de peonagem semi-escrava e de brutalidade policial.
A comunidade celebrava a novena da padroeira, Nossa Senhora Aparecida. E nesse dia haviam chegado ao povoado o Bispo Pedro e o Padre João Bosco Penido Burnier, mineiro de Juiz de Fora, jesuíta, missionário entre os índios Bakairi. Os dois foram interceder pelas mulheres torturadas. Quatro policiais os esperavam no terreiro da delegacia e apenas foi possível um diálogo de minutos. Um soldado desfechou no rosto do Padre João Bosco um soco, uma coronhada e o tiro fatal.
Em sua agonia, Padre João Bosco ofereceu a vida pelo CIMI e pelo Brasil, invocou ardentemente o nome de Jesus e recebeu a unção. Foi morrer, gloriosamente mártir, no dia seguinte, festa da Mãe Aparecida, em Goiânia, coroando assim uma vida santa. Suas últimas palavras foram as do próprio Mestre: "Acabamos a nossa tarefa!"

Painel dos mártires


Memórias, Romarias, Registros

Saulo Feitosa 

Numa certa altura do caminho para Ribeirão Cascalheira, Paulo percorria a lista martiriológica do Cimi, enquanto Jósemo, zeloso para nos fazer chegar a tempo de participar da caminhada dos mártires, afundava o pé no acelerador. Em dado momento Paulo observa: não exagera Jósemo, não podemos correr o risco de ser lembrados apenas como aqueles que tentaram chegar à Romaria dos Mártires, mas não conseguiram tornar-se um deles.

Após lembrar companheiras e companheiros que tiveram suas vidas ceifadas por atos de violência intencionalmente planejados para matá-los, referiu-se a outros e outras que morreram a caminho das aldeias, como Pedro Ziles, morto em trágico acidente enquanto conduzia a moto que o próprio Paulo lhe ajudara a comprar. Também há aqueles e aquelas que morreram na aldeia ou voltando da aldeia, algumas tão jovens quanto Pedro, como Dag e Ana Maria. Somados a esses e essas há muitas outras despedidas provocadas por mortes naturais, outras formas de acidentes.



Nesses 40 anos de Cimi tivemos que aprender também a dizer adeus às pessoas queridas. Lembrá-las é trazê-las para perto, é reviver acontecimentos dos quais participaram juntamente conosco, foi assim que recordei a noite de 4 de abril do ano 2000, quando eu e Carlinhos, também vítima de acidente de moto no trajeto entre Jiparaná e a aldeia, decidimos enfrentar a fúria do Cel. Müller e seus comandados da PM baiana. Ali estávamos nós, somente nós, aqueles dois “esmilinguidos”, no centro da aldeia Coroa Vermelha, tentando demover o cel. da idéia de destruir o “monumento da resistência indígena aos 500 anos”, ainda em fase de construção. Depois de alguns bate-bocas, o cel. anuncia o ultimato: “retirem-se, estou cumprindo ordens superiores”. Enquanto nos afastávamos lentamente, escutávamos o barulho das máquinas destruidoras. Batalha inglória? Não companheiro Carlos, milhares de monumentos continuam a ser erguidos...

Muitas bandeiras, uma causa


Passados alguns meses, encontro-me eu diante da autoridade judiciária, agora na condição de testemunha de acusação do referido cel., que fez questão de assistir meu depoimento. Ao fim do interrogatório me é feita a ultima pergunta: havia alguém no local que possa comprovar o que o senhor falou? Sim, respondi, mas não poderá falar. Por quê? Indagou-me a juíza. Bem que eu poderia ter respondido com um belo refrão  de toré Xukuru que Éden tanto gosta: “Bateu asas, foi embora, coisa boa não adura”. Assim como todos e todas que nos deixaram tão cedo.
Brasília, julho de 2011








D. Leonardo Steiner: "Obrigado. Boa viagem!"
[fotos: Laila]

Romaría dos Mártires em Ribeirão Cascalheira, MT (1)

Testemunhas do Reino



Por ocasião da Romaria dos Mártires no próximo fim de semana (16 e 17 de julho), em Ribeirão Cascalheira, MT, Dom Pedro Casaldáliga contextualiza o significado dessa caminhada simbólica.

O tema-lema da nossa Romaria dos Mártires deste ano de 2011 é TESTEMUNHAS DO REINO. O título mais abrangente e mais profundo que se podia escolher para uma romaria martirial. Dar a vida dando testemunho do Deus da Vida, da Paz, do Amor. Todos aqueles e aquelas que vão doando a sua vida, no dia a dia e a dão ‘de um golpe', na hora final da sua caminhada, são testemunhas do projeto de Deus para a Humanidade, para o Universo; respondem com o que têm de melhor ao sonho de Deus, ao Reino, ao Reino de Deus.

Com essa duas palavras -«Testemunhas do Reino»- sintetizamos tudo o que se possa dizer de uma vida doada, de uma morte vivida. Na visão cristã mais tradicional essa morte é vivida pela Fe cristã. Os mártires que a Igreja reconhece oficialmente são mártires da Fé, da Moral cristã, do Evangelho, explicitamente: missioneiros tal vez, vítimas da caridade heróica, virgens radicalmente fieis ao divino Esposo. Numa visão cristã renovada, mais profunda, mais consoante com a Palavra e com a Vida, com a Morte e a Ressurreição de Jesus, são mártires todos aqueles e aquelas que dão sua vida na morte pelas causas do Reino, pela justiça, pela paz, pela solidariedade, pela ecologia, pela verdadeira promoção do próximo marginalizado. Jesus no Evangelho os define categoricamente: a prova maior do amor é dar a vida por amor. Nosso padre João Bosco deu a vida como missionário entre indígenas e camponeses e deu a vida para libertar a duas mulheres submetidas à tortura.

Nestes dias é notícia, pelo menos nos meios de comunicação mais ao serviço do povo, a morte matada, no Sul do Pará, de um casal de militantes no serviço da Natureza, Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo. Depois de Chico Mendes e da irmã Dorothy, mais dois ambientalistas são assassinados no Sul do Pará. Tristemente no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados aprova o sinistro Novo Código Florestal, que legalizará o desmatamento, anistiando os crimes dos madeireiros. Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo são dois novos mártires da floresta.

Ser cristão, cristã, é dar testemunho; responder com a própria vida aos apelos do Reino e contestar profeticamente à iniqüidade do antireino. Responder diariamente, com fidelidade, ao Amor de Deus no serviço fraterno. É ser coerente, com a palavra feita anúncio e com o anúncio feito prática. É ser testemunha, em primeiro lugar, da suprema testemunha, Jesus de Nazaré, proclamado no Apocalipse como «A Testemunha fiel». Ele veio para fazer a vontade do Pai, testemunhando radicalmente o amor de Deus. Ele veio para que todos tenhamos vida e vida plena. Ele repetiu ante seus perseguidores e todo o povo que suas obras davam testemunho d' Aquele que o enviou.

É uma corrente de ‘testemunhança'. Jesus dá testemunho do Pai, os mártires dão testemunho de Jesus, nós damos testemunho dos nossos mártires. Somos testemunhas de testemunhas. E celebramos a Romaria dos Mártires da Caminhada, no Santuário de Ribeirão Cascalheira, para manter viva a memória de todos aqueles e aquelas que tombaram gloriosamente, com o testemunho do próprio sangue. Celebramos a Romaria dos Mártires num dia, num lugar, para re-assumir o compromisso de vivermos como testemunhas do Reino, cada dia, e em todo lugar. Para dar testemunho do testemunho de nossos mártires e renovar, com paixão, com radicalidade, com alegria, o nosso seguimento de Jesus, na procura do Reino, na vivência do Reino, na celebração do Reino, na invencível esperança do Reino.

Para a minha ordenação sacerdotal, lá pelos anos de 1952, escolhi como lembrança um santinho com aquela pintura de El Greco que apresenta Jesus olhando para o Pai e entregando-se a seu serviço: Os sacrifícios não te agradaram e eu vim para fazer a tua vontade. No santinho recolhi o versículo 8 do capítulo 1 do livro dos Atos dos Apóstolos, «Vocês serão minhas testemunhas até os confins da Terra».

E de qualquer confim e em toda circunstância seguiremos na caminhada, como testemunhas de testemunhas, como TESTEMUNHAS DO REINO.

Pedro Casaldáliga,
bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, MT.

Jornada Teológica em Santiago do Chile: Entrevista com Eleazar López (4)

Nosotros, indígenas, somos parte de la solución



 En un mundo que sufre actualmente una crisis de credibilidad institucional religiosa "el aporte indígena no es el problema, es la solución”, afirmó el teólogo zapoteca Eleazar López, quien participa de las Jornadas Teológicas del Cono Sur y Brasil, en este momento en desarrollo en Santiago de Chile.

"Efectivamente estamos en un momento de crisis. Crisis de las instituciones en general, crisis del Estado. Más aún, vemos como toda la civilización occidental está colapsando porque ya no da respuestas. Se requiere otro mundo y nosotros somos ese mundo posible”, comentó López tras exponer ante doscientos participantes de las Jornadas en la Universidad Católica Silva Henríquez.

"Un elemento fundamental en los pueblos indígenas que puede ayudar a superar esta crisis tiene que ver con la austeridad. Si no volvemos a ese esquema y seguimos en la dinámica del consumismo, no va a haber posibilidad de que el planeta pueda sustentar la capacidad de consumo que se está requiriendo. Estamos construyendo caminos hacia la muerte”, sentenció el teólogo mexicano.

Según López, la propuesta indígena del "buen vivir” es diferente a la concepción católica del "vivir bien”.

"La concepción católica ha hecho una lectura bíblica equivocada del texto del Génesis, ‘yo te pongo para que domines’. En cambio, el pensamiento indígena plantea que nosotros no somos superiores, somos parte de esto y estamos aquí con una responsabilidad sobre esta realidad”, puntualizó.

Para el teólogo zapoteca, la crisis que hoy vive la Iglesia Católica "era necesaria”, a fin de estrechar lazos entre la Institución y la teología indígena.

"Ahora nos miran de otra forma, no como gente que necesita, sino como gente que tiene una palabra que decir, un aporte que dar. Este momento sirve para que la Iglesia se purifique y asuma el proceso, para que los pobres puedan quitar las lagañas que le impedían ver (a la Iglesia), y entonces empezar a mirar de otra manera. Eso está ocurriendo”, recalcó.

Para el experto, el diálogo con los teólogos no indígenas "es un trabajo difícil y doloroso, porque son dos mundos diferentes que tratan de encontrarse. Los puentes se están estableciendo, los estamos creando para mostrar que no hay una contradicción de fondo”.
Fonte: Adital
 Por Orlando Milesi, periodista de la Agencia ANSA

Jornada Teológica em Santiago do Chile (3)

Fotoreportagem da Jornada


Mesa de trabalho2:
Pergunta contemporâneas sobre Deus



Celebração de abertura
Pablo Bonavia e Socorro Martínez

Jornada Teológica do Cone Sul e Brasil em Santiago do Chile (2)

MESA DE TRABALHO 2:
“Perguntas contemporâneas sobre Deus”

Na proximidade com grupos populares percebe-se que a pergunta não deveria versar "sobre" Deus, mas "a" Deus. Os pobres não falam sobre Deus. Eles falam com Deus: "Perguntas contemporâneas a Deus".
A primeira palavra seja dada aos artistas Gilberto Gil, Pedro Mariano e Elis Regina, que conseguem transformar o grito em canção; a segunda palavra, ao sábio, a Paulo Freire, em sua última entrevista.

Se eu quiser falar com Deus




"O camarada Cristo"




Roberto Urbina, um dos secretários gerais
do evento, avalia alguns aspectos da Jornada

 Como é a metodologia de trabalho pensada para esta Jornada?

Para esta Jornada, estamos adotando uma metodologia mais desafiante: cremos, como afirma a Teologia da Libertação, que têm teólogos entre os animadores de movimentos populares, entre agentes pastorais e no nível acadêmico. Esta será uma oportunidade para que todos eles, juntos, coletivamente, reflitam contribuindo com seus olhares, suas experiências e suas projeções a partir dos temas específicos de cada Mesa de Trabalho.

Como se avalia a situação da Teologia da Libertação no Cone Sul e Brasil?

Há uma grande diferença entre a Teologia da Libertação no Brasil e nos outros países. No Brasil, esta reflexão teológica está vigente até hoje com uma presença visível e, às vezes, oficial, vivida nas bases rurais, urbanas e sindicais, e apoiada por teólogos reconhecidos, agentes pastorais e um número significativo de bispos. Nos outros países, esta teologia tem um perfil menos influente, mas segue vigente em grupos e comunidades.

Quais são os principais objetivos para a Teologia nesta região?

 Abrir um novo horizonte no diálogo da fé com a realidade social, cultural, ambiental e econômica da região é o principal desafio. Um diálogo que permita avançar na compreensão de que necessitamos encontrar novas perguntas, mais que novas respostas. Estas Jornadas contribuem para dar uma nova vigência às principais chaves do Concílio: o sacerdócio comum de todos fiéis que os constituem em Povo de Deus, uma fé imersa e inculturada no mundo dialogando vivamente com ele, crescente reconhecimento dos diversos rostos de Deus presentes hoje.
[Fonte integral: Adital, 27.6.2011]

Entre os dias 12 e 15 de julho, Jornada Teológica do Cone Sul e Brasil em Santiago do Chile (1)

  Jornada de Santiago prepara  Congresso
de São Leopoldo, RS, em comemoração
da abertura do Vaticano II (1962) 


Entre os dias 12 e 15 de julho, Santiago do Chile receberá a Jornada Teológica do Cone Sul e Brasil. A Jornada é uma etapa preparatória e de mobilização para o Congresso Continental de Teologia (CCT), a ser realizado em São Leopoldo, RS, em 2012. O CCT tem como principal finalidade pensar os desafios e tarefas futuras da teologia da libertação na América Latina.

As Jornadas Teológicas serão ou já foram realizadas em quatro regiões: na Guatemala, para os países da América Central e Caribe, na Cidade do México, para mexicanos e hispanos dos Estados Unidos; e outra em Bogotá, para os países andinos.

Vou participar de dois momentos:
- da MESA DE TRABALHO 2: “Perguntas contemporâneas sobre Deus”
- do PAINEL “Teologia e prática libertadora”, no dia 15.7.

A seguir, um trecho da minha contribuição ao PAINEL:

Focos de ação

Se o nosso ponto de partida para a reflexão teológica é o sofrimento imputado ao pobre e ao outro numa sociedade de acumulação, opulência, consumo, fome e violência, o ponto de chegada visa a transformações profundas envolvendo a nossa responsabilidade política pelo “bem viver” de todos que se desdobra em lutas pela redistribuição dos bens (contra acumulação e pobreza), pelo reconhecimento do “outro” (contra todas as formas de desprezo à alteridade), por uma ética na administração da vida pública (contra corrupção e privilégios) e por uma ecologia socialmente orientada, enfim, pela paz contra todas as formas de violência.
Vulcão Chileno
Num mundo alienado pelas exigências do mercado, pela acumulação do capital, pela aceleração da produção de objetos supérfluos ou descartáveis e pelos meios de comunicação, também os pobres e os “outros” são infectados pelo vírus da alienação. Sobretudo, quando políticas públicas oferecem mitigações, compensações ou medidas paliativas para esconder estruturas e causas do sistema perverso de exploração, o vírus da alienação ameaça a identidade dos pobres e a subjetividade dos “outros”; ameaça sua autoestima e sua crença num mundo em que tudo pode ser diferente.


A análise da realidade e o recurso à revelação com o prefixo (pressuposto) da opção pelos pobres se inspiram na experiência do povo de Deus, povo santo e pecador, que foi e continua sendo ameaçado não só pelos impérios do Egito ou da Babilônia, mas também pelo império do templo de Jerusalém e pelo Império Romano cristianizado; é tentado não só pela abertura ou adaptação ao império, mas também pelo fechamento ou por um zelo exagerado pela identidade face ao mundo. Esse zelo, muitas vezes, está na raiz do fechamento e do fundamentalismo. Além disso, trigo e joio crescem não só nos campos do povo eleito, mas também no coração de cada indivíduo.

A opção pelos pobres e pelos “outros” nos dá a chave de leitura bíblica e a leitura bíblica nos lembra da ambivalência não só dos inimigos de Javé, mas também da ambivalência do próprio povo de Deus e de cada um dos eleitos. Entre opção pelos pobres, leitura bíblica e sempre nova prática libertadora da fé há um entrelaçamento circular como existe entre identidade, coerência e relevância, que sempre são parciais. A identidade não é natural. Ela é historica e culturalmente construída, a partir da nossa opção pelos pobres e pelos “outros”. Diante dela, a nossa leitura bíblica pode mostrar e aprofundar a sua relevância para a vida dos pobres. Essa relevância, que a Bíblia mostrou na história de Israel, atinge a nossa conduta e configura a profundidade e veracidade da nossa opção pelos pobres.

No seguimento de Jesus como prática teológica e social de uma Igreja samaritana se revela o grau de coerência da nossa conduta. Identidade de opção pelos pobres, relevância de leitura bíblica para com esses pobres pelos quais optamos e coerência com a nossa natureza (identidade) configuram a espiral hermenêutica que nos permite crescer e acrescentar, permanecendo o que somos e ser o que seremos: servos inúteis (cf. Lc 17,10) no canteiro de obras do mundo novo e cidadãos do Reino.

Fragmento de uma entrevista com Afonso Florence, ministro do Desenvolvimento Agrário

Agronegócio x agricultura familiar

 
 Para os movimentos de reforma agrária, o governo dá muita atenção ao agronegócio. Isso prejudicaria a reforma agrária, porque, de acordo com essa visão, o agronegócio se opõe à agricultura familiar e à redistribuição de terras. Como vê isso?
Para o governo, o que importa é uma política pública de interesse nacional. A agricultura familiar garante 10% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e 33% da produção agrícola. Ocupa 24% da área produtiva rural, é responsável por 74% da mão de obra ocupada e garante cerca de 70% dos alimentos que os brasileiros consomem. Pela nossa leitura do Brasil contemporâneo, com a consolidação do mercado interno e o crescimento da demanda por alimentos, é preciso garantir que os assentados, as populações tradicionais que vivem do extrativismo, os agricultores familiares e outros setores dessa população rural consigam se inserir numa dinâmica de mercado mais intensa. Essa dicotomia entre agronegócio e agricultura familiar pode servir para diferentes atores políticos, sociais e econômicos. Mas o governo não trabalha com isso  [fonte: Estado de S. Paulo, 4.7.2011].

Pergunta do leitor: Será que a inserção na dinâmica de mercado é mais importante do que o bem-estar social? Se o governo não trabalha com isso, renuncie ao seu cargo! As cifras que o Sr. menciona condenam seu projeto.

Dia 14 de setembro, Dom Paulo Evaristo Arns vai completar 90 anos

D. Paulo devotou-se a devassar
a repressão política, identificar vítimas, colher
narrativas de barbárie e arrolar torturadores

 José de Souza Martins

O franciscano D. Paulo Arns
As 3 mil páginas de documentos sobre o combate à tortura no Brasil durante o regime militar que estavam guardadas no Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, objeto da série publicada neste jornal, são apenas a face legível da ação que teve no cardeal d. Paulo Evaristo Arns a figura aglutinadora e carismática. O arcebispo de São Paulo conseguiu reunir em torno de si uma legião de pessoas que nele confiaram e se devotaram à missão de penetrar nas entranhas da repressão política, identificar vítimas, colher narrativas sobre os procedimentos da barbárie, arrolar torturadores que a ela sucumbiram e por meio dela se desumanizaram e se degradaram. O amplo e grave comprometimento do Estado brasileiro na criação de uma verdadeira indústria de tortura, com dinheiro público e o complemento de doações privadas para remunerar e premiar por tarefa os nela envolvidos, ficou evidente na volumosa coleção de testemunhos e indicadores que resultaram no relatório Tortura, Nunca Mais.

Fazia tempo que um grupo de lídimos cidadãos, de vários modos ligados à Igreja Católica, o que incluía protestantes como o pastor Jaime Wright, juntamente com religiosos, estava aglutinado por d. Paulo na Comissão de Justiça e Paz e na Comissão de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo, preocupados com violações de direitos por parte do regime político. Um membro da primeira comissão, Helio Bicudo, procurador de Justiça, com o promotor Dirceu de Mello, investigara e denunciara o esquadrão da morte que sequestrava e executava supostos delinquentes. Membros do esquadrão eram policiais, alguns ligados ao Dops e à tortura de presos políticos, que foram recrutados pelo Exército para prestar os mesmos serviços "especializados" na Oban, germe do DOI-Codi, o órgão de tortura instalado junto ao quartel-general do II Exército, da Rua Tutoia, no Ibirapuera.
Na roda de amigos
Investigar a barbárie, identificar-lhe a cara, os procedimentos e as vítimas, como o fez o grupo de pessoas que se reuniu ao redor de d. Paulo, foi ato de resistência cidadã, de pessoas movidas pelo mais alto sentimento de compromisso com a condição humana, acima das convicções religiosas, ainda que movidas por elas. Um gesto decisivo na restauração da dignidade nacional e na restituição do Brasil à verdade de sua consciência e à moralidade de seus anseios históricos.

Mas isso não se deu ao acaso. No âmbito da Igreja, d. Paulo não estava cercado de apoios tão extensos quanto eram necessários. Sempre é bom lembrar que a Igreja Católica, em 1964, com poucas exceções, apoiara o golpe de Estado de maneira decisiva, com as Marchas da Família com Deus pela Liberdade, o suporte de rua de que os militares careciam para atropelar a legalidade e instituir o regime autoritário. Mas aí havia complicados desencontros. A tradição positivista e anticlerical do Exército, que na proclamação da República promovera a emancipação da Igreja, dela separando o Estado, como Estado secular e laico, mantivera-se ao longo da história republicana.

No golpe de Estado, o Exército e as Forças Armadas deixaram imediatamente claro que agiam em nome próprio, embora isso não fosse verdade indiscutível. A sutil ascensão política dos protestantes durante o regime militar é muito indicativa de quanto a caserna estava longe de rever o anticlericalismo da imposição republicana do golpe de 1889. Subsistiam, no entanto, no interior da Igreja grupos que se sentiam mais protegidos em suas convicções religiosas no silêncio sobre o regime e suas práticas do que com as inquietações humanitárias de bispos como d. Paulo e d. Hélder Câmara. Era um tempo de incerteza também para a Igreja, o que mais valoriza o inconformismo de d. Paulo e dos que o seguiram na investigação e denúncia da tortura.
O inconformismo contra a tortura que oficialmente atingia todos os rotulados como subversivos e comunistas, fossem-no ou não, até mesmo religiosos, era, portanto, não se conformar com o crônico e não raro justificado temor da Igreja Católica em relação ao materialismo comunista, com função indevida de religião arreligiosa na ideologia da esquerda. Em Roma difundiam-se as reservas à Teologia da Libertação, indevidamente interpretada como leitura marxista do Evangelho. Quando é na verdade um modo católico de adoção do método dialético na interpretação religiosa, justamente em nome do enfrentamento da crise da mística e da busca do reencontro da dimensão de totalidade num mundo dividido e fracionado pela modernidade, a própria religião reduzida à banalidade do acaso e do descartável. Atitudes como a de d. Paulo, nesse cenário, acabavam interpretadas na pauta dos temores de Roma e de suas restrições anticomunistas em sua resistência a um suposto encontro de catolicismo e marxismo.

Portanto, era alto o preço que d. Paulo sabia ter que pagar por sua opção preferencial pela justiça e pela verdade no que se referia às violências do regime ditatorial. E ele, serenamente, o pagou.

 JOSÉ DE SOUZA MARTINS É SOCIÓLOGO E PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA USP.

[Fonte: Estadão, Suplemento, 26.6.2011]