Por Jaime C. Patias
27 / Fev / 2014 15:27
“A revelação é um mistério de Deus mal explicado”, afirma Paulo Suess ao debater sobre os perigos do monopólio sobre a revelação por certos grupos, igrejas e elites. A discussão fez parte dos debates na manhã desta quinta-feira, 27, durante o 3º Simpósio de Missiologia, que acontece em Brasília (DF) desde o último dia 24.
Paulo Suess é doutor em teologia, professor de pós-graduação no Instituto São Paulo de Estudos Superiores (Itesp). O teólogo que é também assessor do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), avalia que, “a Igreja católica, em suas definições tradicionais, tem certa dificuldade com oreconhecimento da revelação em religiões não cristãs. Ela reserva o conceito de revelação para o conteúdo de seu livro sagrado, a Bíblia”. Suess argumenta que, para os que vivem às margens socioculturais das nossas sociedades, a palavra de Deus pode ser um instrumento de defesa de seu projeto de vida. O missiólogo evidencia o projeto de vida dos pobres-outros em dois eixos: “a redistribuição dos bens e o reconhecimento da alteridade”.
Em sua opinião, pobreza e alteridade nem sempre coincidem. “Os judeus, no regime nazista da Alemanha, os povos Yanomami de Roraima, os ciganos do Paraná e os homossexuais de Uganda não são nem eram necessariamente pobres. Mesmo assim, a ética cristã os defende aquém e além do projeto de vida dos pobres. Também em seus projetos de vida Deus se revela, em palavras e sinais”, explica e argumenta que, para os cristãos seria difícil defender pessoas que são sujeitos desses projetos de vida sem considerar o “projeto de Deus”.
Seguindo esse fio condutor, Suess questiona o monopólio salvífico da revelação por parte da Igreja católica. Precisamos “reconhecer a voz de Deus nas tradições orais ou escritas da humanidade. A doutrina da revelação integralmente contida na Bíblia reduz a universalidade da palavra de Deus à tradição judeu-cristã e nega a possibilidade da revelação partilhada com todos os povos”, destacou para, em seguida, perguntar: “como podemos nos livrar dessa redução com inspirações da própria Bíblia e da reflexão pós-conciliar?”
Ao ponderar sobre essa questão, Suess observou que, “os pobres-outros e com eles a humanidade toda não são somente destinatários da salvação universal em Jesus Cristo, mas são também portadores universais da revelação de Deus. Esse reconhecimento não é algo exterior à normatividade do cristianismo, mas é inerente à dinâmica do Evangelho”.
O assessor observou ainda que, as diferentes revelações e sistematizações têm na Igreja um lugar de discernimento e de objetivação consensual. “Essa postura se pronuncia sobre o valor salvífico ou não de outros caminhos e, necessariamente, se abre para o horizonte escatológico onde as múltiplas experiências de Deus se concentrarão numa definitiva revelação de Deus, sem mediações institucionais de religiões, crenças ou igrejas”.
As intervenções dos participantes no Simpósio evidenciaram várias dificuldades na tarefa de desconstruir um modelo exclusivista de entender a revelação de Deus. O sentimento geral é de criar coragem para avançar. Ao contribuir com o debate, Suess recordou que, “para Jesus de Nazaré, a revelação está na inusitada compreensão da loucura de Deus como verdadeira sabedoria. Toda a sabedoria de Deus, porém, e sua revelação como Reino de Deus no meio de nós tem um horizonte escatológico”. Além disso, “os destinatários da palavra de Deus e a escolha dos protagonistas de seu projeto revelam a finalidade e mostram a mediação desse projeto. Jesus escolheu os pequenos-outros como protagonistas de seu projeto, todos aqueles que vêm da grande tribulação. Sua dor é real e nunca simulação ideológica. Seu mundo, por não ser ideológico é pata todos”, arrematou.
Na sequência, o pastor metodista boliviano, Carlos Intipampa, professor no Instituto Superior Ecumênico Andino de Teologia (ISEAT), em La Paz, apresentou a perspectiva indígena de fazer teologia. O mexicano Juan Manuel Quintanar, coordenador do Centro Nacional de Missões Indígenas (CENAMI), na cidade do México, falou sobre a Palavra de Deus e a Palavra dos "outros" (alteridade).
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