Um ressurgimento imprescindível


Memorandum de professoras e professores de teologia sobre a crise da Igreja Católica na Alemanha com mais de 200 assinaturas [veja o documento em sua íntegra em português].
Se a revolta árabe no Egito começa a atingir o mundo árabe, também a reivindicação dos seis passos concretos para superar a crise da Igreja Católica na Alemanha pode ser relevante para o mundo católico em sua totalidade.


"[...] A orientação, na notícia libertadora bíblica, implica numa relação diferenciada com a sociedade moderna: em alguns aspectos a sociedade se adiantou à Igreja, quando se trata do respeito à liberdade e à responsabilidade do indivíduo; disso a Igreja pode aprender como já ressaltou o Concílio Vaticano II. Noutros aspectos, uma crítica desta sociedade, a partir do espírito do Evangelho, é indispensável; por exemplo, como quando as pessoas são qualificadas apenas em função de sua produção, quando a solidariedade mútua se perde ou a dignidade é pisoteada.
 
De todas as maneiras o anúncio de liberdade do Evangelho é o critério para uma igreja crível, para sua atuação, para a sua conformação social. Os desafios concretos que a Igreja tem que enfrentar não são novos. Entretanto, reformas dirigidas para o futuro não se deixam perceber. Diálogo aberto tem que ser processado nos seguintes campos de ação:


1. Estruturas de participação: Em todas as áreas da vida eclesial a participação dos e das fiéis é pedra de toque para a credibilidade do anúncio libertador do Evangelho. Segundo o antigo princípio do direito: "O que concerne a todos e todas deve ser decidido por todos e todas”, se necessitam mais estruturas sinodais em todos os níveis da Igreja. Os e as fiéis devem participar da escolha dos ministros ordenados importantes (bispo, pároco). O que pode ser decidido localmente deve ser decidido aí. As decisões têm que ser transparentes.

2. Comunidade: Comunidades cristãs devem ser espaços nos quais as pessoas compartilhem bens espirituais e materiais. Atualmente, porém, a vida das comunidades se desfaz facilmente. Sob a pressão da escassez de sacerdotes constroem-se unidades administrativas cada vez maiores –"paróquias XXL”– nas quais já não se pode experimentar proximidade nem pertença. Identidades históricas e redes sociais construídas são abandonadas. Os sacerdotes são consumidos e assim permanecem. Os fiéis se distanciam se não se lhes confia corresponsabilidade em estruturas democráticas de direção de sua comunidade. O ministério eclesial tem que servir à vida das comunidades – não o contrário. A Igreja precisa também de sacerdotes casados e de mulheres no ministério ordenado. 
A festa do povo
  
3. Cultura jurídica: O respeito e o reconhecimento da dignidade e liberdade de cada pessoa se revelam especialmente quando se resolvem os conflitos de uma maneira justa e respeitosa. O direito canônico somente merece esse nome se os e as fiéis realmente puderem reclamar seus direitos. Urge melhorar a proteção dos direitos em nossa Igreja e uma cultura jurídica: um primeiro passo para avançar será a criação de um sistema eclesiástico de justiça administrativa.

4. Liberdade de consciência: O respeito à consciência pessoal significa ter confiança na capacidade de decisão e responsabilidade das pessoas. Promover esta capacidade é também tarefa da Igreja; mas isto não deve se transformar em tutela. Levar isto a sério tem que ver, sobretudo, com a área de decisões relativas à vida pessoal e sobre estilos individuais de vida. A valorização eclesial do casamento e do celibato está fora de questão. Mas isto não implica excluir as pessoas que vivem amor, fidelidade e cuidado mútuo numa relação de parceria com pessoas do mesmo sexo ou aquelas divorciadas e casadas de novo que vivem de maneira responsável.


5. Reconciliação: A solidariedade com os "pecadores” supõe levar a sério o pecado em suas próprias filas. Um rigorismo moralista ególatra não lhe corresponde à Igreja. A Igreja não pode pregar a reconciliação com Deus sem criar, em sua própria atuação, as condições de reconciliação com aqueles e aquelas com as quais ela se fez culpável: seja por violência, por privação de justiça ou por perversão da mensagem libertadora da Bíblia numa moral rigorista sem misericórdia.
6. Celebração: A liturgia vive da participação ativa de todos e todas fiéis. Experiências e expressões do presente têm que ter seu lugar. A liturgia não pode congelar-se no tradicionalismo. A pluralidade cultural enriquece a vida litúrgica e não combina com as tendências de uma unificação centralizadora. Somente quando a celebração da fé envolve as questões concretas da vida é que a mensagem eclesial pode chegar até às pessoas.

[...] Os cristãos e cristãs são chamados pelo Evangelho para olhar para o futuro com ânimo e – respondendo à palavra de Jesus – a caminhar sobre a água como Pedro: "Por que têm tanto medo? Tão pequena é a sua fé?”


11 de fevereiro de 2011

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