Papa Francisco enfrenta ‘guerra civil’ na igreja católica
Papa Francisco enfrenta ‘guerra civil’ na igreja católica: Cardeais conservadores condenam opção pelos pobres defendida pelo argentino e travam batalha contra guinada reformista assumida pelo líder do Vaticano, que faz 80 anos neste 17 de dezembro
Madre Teresa, uma santa que não acreditava em Deus
Madre Teresa, religiosa conhecida por
sua obra de caridade favelas da Índia, foi canonizada durante a manhã de
domingo, 4 de setembro de 2016 no Vaticano. A cerimônia, celebrada pelo papa
Francisco, foi acompanhada por uma multidão de 120 mil pessoas diante da
Basílica de São Pedro.
Leonardo Boff
Tudo é político, mas o político não é
tudo. Há outras dimensões na vida que merecem a nossa atenção e que nos levam a
refletir sobre a condição humana, mesmo de pessoas que consideramos santas.Quero me referir à noite escura que a recém canonizada Madre
Teresa de Calcultá viveu e sofreu desde 1948 até a sua morte em 1997. Temos os
testemunhos recolhidos pelo postulador de sua causa, o canadense Brian
Kolodiejchuk num livro Come Be My Light (Venha, seja a minha luz).
Como é notório, Madre Teresa vivia em
Calcutá recolhendo moribundos das ruas para que morressem humanamente dentro de
uma casa e cercados de pessoas. Fazia-o com extremo carinho e completa
abnegação. Tudo indicava que o fazia a partir de uma profunda experiência de
Deus.
Qual não é a nossa surpresa, quando
viemos saber de seu profundo desamparo interior, verdadeira noite sem estrelas
e sem esperança de um sol nascente. Essa paixão dolorosa durou por quase 50
anos até a sua morte. Já em agosto de 1959 escrevia a um de seus diretores
espirituais:”Em minha própria alma sinto uma dor terrível. Sinto que Deus não
me quer, que Deus não é Deus e que Ele verdadeiramente não existe”.
Numa outra ocasião escreveu:”Há tanta
contradição em minha alma: um profundo anelo de Deus, tão profundo que me faz
mal; um sofrimento contínuo e com ele o sentimento de não ser querida por Deus,
rejeitada, vazia, sem fé, sem amor, sem cuidado; o céu não significa nada para
mim, parece-me um lugar vazio”.
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Canonização na Praça de São Pedtro |
Sabemos que muitos místicos
testemuham esta experiência de obscuridade. Constatamo-lo em São João da Cruz,
em Santa Teresa D’Avila, em Santa Teresa de Lisieux, entre outros. Esta última,
tão meiga e expressão da mística das coisas cotidianas, escreveu em seu Diário
de uma Alma:” Não creio na vida eterna; parece-me que depois desta vida mortal,
não existe nada: tudo desapareceu para mim, não me resta senão o amor”.
Conhecida é a noite escura de São
João da Cruz, tão bem expressa em seu poema “La noche oscura”. Ele distingue
duas noites escuras: uma, a noite dos sentidos pela qual a alma vive sem
consolos espirituais e numa severa secura interior. A outra é a noite do
espírito “oscura y terrible” na qual a alma já não consegue crer em Deus, chega
a duvidar de sua existência e se sente condenada ao inferno.
Especialmente a modernidade, centrada
em si mesma e perdida dentro imenso aparato tecnológico que criou, vive também
esta ausência de Deus que Nietzsche qualificou como “a morte de Deus”. Não que
Deus tenha morrido, porque então ele não seria Deus. Mas é o fato de que nós o
matamos, vale dizer: ele não é mais um centro de referência e de sentido.
Vivemos errantes, sós e sem esperança.
Dietrich Bonhöffer, teólogo mártir do
nazismo, captou esta experiência, aconselhando-nos a viver “como se Deus não
existisse” (etsi Deus non daretur). Mas vivendo no amor, no serviço aos demais
e no cultivo da solidariedade e do cuidado essencial. Pois esses são os valores
sob os quais Deus se esconde. Quem os vive, mesmo sem o saber, está em Deus.
Suspeitamos que Jesus conheceu esta
noite terrível. No Jardim das Oliveiras sentiu-se tão só e angustiado que
chegou a suar sangue, expressão suprema do pavor. No alto da cruz, grita ao
céu:”Pai, por que me abandonaste?” Não obstante essa ausência de Deus, se
entrega confiante: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Despojou-se de
tudo. A resposta veio na forma da ressurreição como a plenitude da vida.

Simone Weil, a judia que, na última
guerra, se converteu ao cristianismo mas não se deixou batizar em solidariedade
a seus irmãos condenados às câmaras de gás, nos dá uma pista de compreensão
sobre onde encontrar Deus mesmo no meio da mais absoluta escuridão como aquela
de Madre Teresa e de tantos homens e mulheres espirituais que vem um tormento
interior: “Se quiseres saber se alguém crê de Deus, não repare como fala de
Deus mas como fala do mundo”, se fala na forma da solidariedade, do amor e da
compaixão. Deus não pode ser encontrado fora destes valores. Quem os vive está
na direção dele e junto dele mesmo que o negue.
Madre Teresa de Calcutá, em sua noite
escura, mas cheia de amor aos moribundos, estava em comunhão com o Deus
abscôndito. Agora que já se transfigurou viverá em plena luz e saboreará a
presença de Deus face a face na mais profunda intimidade e na comunhão sem fim.
Leonardo Boff é teólogo e articulista
do JB on line
Resonância da palavra de Ñanderu - Teologia Índia
O tema central do VIIIo Encontro Continental de Teologia Índia, realizado em Panajachel/Guatemala, entre os dias 28 a 30 de setembro de 2017, foi “A palavra de Deus na Palavra dos povos indígenas”. Um dos objetivos da Teologia India é a descolonização da vida dos povos indígenas e de setores eclesiais ainda não familiarizados com a proposta do Vaticano II. e do Papa Francisco nem com pressupostos básicos da modernidade como participação democrática, reciprocidade do ouvir e falar e reconhecimento da alteridade. Procuramos ouvir a Palavra de Deus e captar a sua ressonância não só em nossos livros sagrados, mas também nos livros sagrados, nas revelações e nos ritos sacramentais de todos os povos. Não se trata de ouvir “a mesma coisa” nas culturas dos outros, mas de ouvir o mesmo Deus em seus projetos diferentes de vida. A nossa fé não é autossuficiente. Para se manter viva, ela precisa se fecundar através de múltiplas escutas da palavra de Deus sempre culturalmente situada. O intercâmbio entre ouvir e falar, em registros diferentes mas através de raizes e horizontes semelhantes, aponta para o futuro comum de esperança através de diferentes modos de ser e numa sociedade na qual o bem viver de uma classe social depende da negação das condições de vida da outra. Nas lutas pelo bem viver de todos temos um longo caminho pela frente.
1. A
palavra de Deus na palavra dos povos guarani


A criação da palavra
e dos pais e mães da humanidade antecedeu a criação da primeira terra. No mito
dos Mbyá, “criou nosso Pai o fundamento da linguagem humana e a tornou parte de
sua própria divindade, antes de existir a terra (…) tendo refletido,
profundamente, da sabedoria contida na sua própria divindade, e, em virtude da
sua sabedoria criadora, criou aqueles que seriam companheiros e companheiras de
sua divindade (cf. Cadogan, 1959, p. 19.21).
- O tempo antigo representa uma crítica radical à
sociedade real do segundo tempo,
marcado pela conquista, pela escravidão, pelas Reduções, pela industrialização
e urbanização, por matanças, e pela expulsão de seus territórios, até hoje.
- A metafísica
guarani é política. Ela sustenta a esperança de um terceiro tempo no qual um outro mundo é possível, às margens ou
depois do capitalismo neoliberal. A interpretação da história pelos guarani
“não é apolítica, pois seus mitos emprestam imagens, linguagem e sentido às
bandeiras de luta política. Valha como exemplo o poder mobilizador das
assembleias politico-religiosas, Aty Guasu, nas últimas décadas” (Chamorro,
2015, Introdução).


A metafísica guarani,
dissemos, orienta a política guarani. Uma senhora guarani, muito idosa, foi
perguntada: “Porque vocês insistem agora nas retomadas de suas terras, num
contexto, estratégicamente, tão desfavorável”? Ela respondeu: “Ñanderu mandou
dizer: está na hora”. Quando no Congresso de Brasília são tratadas questões que
atingem os indígenas no Brasil, sempre se encontra um grupo para realizar suas
danças, rezas, cânticos, às vezes com um sucesso espetacular, como aquela vez
quando apagou a luz no Congresso (um fato inédito porque também os motores de
reserva não podiam ser mais acionados) e os deputados não conseguiram mais
tratar a questão da PEC 215 (“marco temporal”) naquele ano.

“Palavra” na cultura
guarani, pode significar “alma”. Na tradição guarani, a pessoa não tem alma,
ela é alma. Ela é palavra-alma. A alma “designa o indivíduo integralmente. Alma
é o próprio `eu´” (Chamorro, 1998, p. 48). Alma significa “identidade”. E essa
alma tem nome próprio que é revelado no batismo da criança. O xamã revela esse
nome, que lhe foi indicado no sonho, marcando assim a recepção oficial da nova
palavra na comunidade. Cada pessoa é uma encarnação da palavra.
Na crise, a
palavra-nome, a palavra-alma, sofre uma dissociação ou fragmentação que causa
doença. Ao trazer a palavra de volta significa cura. A palavra mantem o guarani
em pé. “É a verticalidade assegurada pela palavra que diferencia o ser humano
vivo dos outros seres e dos humanos mortos, doentes ou sem nome” (Chamorro,
ibid. p. 49). A palavra humaniza. Quando a palavra não tem mais lugar na pessoa,
ela morre. Os que restauram a palavra são procurados para salvar um moribundo
da morte.
Nossa sociedade de
hoje, focada no lucro e na política corrompida pelas máximas do grande capital,
para a palavra e a alma guarani tem cada vez menos lugar. A palavra hegemônica
é dada àqueles que defendem a expansão da soja, da cana de açúcar, do pasto do
gado, do plantio de eucalipto, das hidreléctricas, das promessas falaciosas da
economia verde e sustentável.
A serenidade é uma das virtudes mais
desejadas pelos líderes espirituais guarani. Como ser um bom agrigultor, sem
terra? Para quem contar a história e a sabedoria dos tempos primordiais numa
sociedade na qual essa história e essa sabedoria são castigadas com fome e penúria?
No exato momento em que formulei essas perguntas, recebi um e-mail de Genebra:
O Eliseu, o lider guarani-kaiowa do Mato Grosso do Sul está falando na ONU,
denunciando a política brasileira do estrangulamento dos povos indígenas. Ainda
existem lugares, onde a voz profética dos guarani é escutada.
As
lutas dos povos indígenas por terra e qualidade de vida apontam para as
exigências da justiça e para a dinâmica da esperança. Ciclicamente, rompem o
círculo de giz da normalidade do absurdo. As retomadas de terra são saídas das
molduras dentro das quais os governos colocaram os povos indígenas na parede
para comemorarem seu passado e negarem seu futuro. O pulo das molduras do
imaginário oficial para a realidade histórica caracteriza a passagem da tutela
à autodeterminação. E essas lutas não são lutas isoladas. É a luta dos pobres
por comida, dos refugiados por um espaço de paz, dos operários por trabalho,
dos excluídos por participação, dos povos indígenas por terra para viver. A
partir da humanidade crucificada, emerge um Terceiro Sujeito (depois da “burguesia”
e da “classe operária”) que permite novamente falar de utopias, esperança,
transformação estrutural e projeto alternativo.
A
humanidade crucificada sustenta o sonho da igualdade na diferença, da
gratuidade e da partilha, da sociedade sem classes, sem castas e sem
discriminações de gênero e etnias. Ao mesmo tempo que ela avança na marcha para
a igualdade e paz, ela suspende a marcha do “homem econômico” que procura
fechar as últimas fendas do seu calabouço de necessidades, construindo – a
partir de seu projeto lucrativo - a sua prisão perpétua.
A
humanidade crucificada que “vem da grande aflição” (Apc 7,14), articula o
“princípio da realidade” com o “princípio esperança”. Para os cristãos, esse
“princípio esperança” está ancorado na libertação definitiva e universal,
prefigurada na ressurreição de Jesus. Desde a justiça da ressurreição que
rasgou a sentença dos injustiçados, sabemos que a utopia da “vida eterna” é
inseparável da compaixão vulnerável de Deus para com a humanidade crucificada.
Em Jesus Cristo, o trono de Deus se tornou cruz (Ro 3,25) e Sua glória, a vida
dos povos indígenas junto com toda a humanidade.
Paulo Suess
[Elementos da
palestra apresentada no dia 28.09.2016 durante o VIII Encontro Continental de
Teologia Índia, Guatemala, organizado pela Articulación Ecuménica
Latinoamericana da Pastoral Indigena (Aelapi).]
Referências
bibliográficas
Cadogan,
León. Ayvu rapyta (O fundamento do dizer: textos míticos de los Mbyá-Guaraní
del Guairá. Boletim. São Paulo, USP, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
(227): 1-227, 1959.
Chamorro,
Graciela. A espiritualidade guarani: Uma Teologia Ameríndia da Palavra. São
Leopoldo, Instituto Ecumênico de Pós-Graduação/Editora Sinodal, 1998.
Chamorro,
Graciela. História Kaiowa. Das origens aos desafios contemporâneos. São Paulo,
Nhanduti, 2015.
Clastres,
Hélène. Terra sem mal. São Paulo, Brasiliense, 1978.
Clastres,
Pierre. A fala sagrada: mitos e cantos sagrados dos índios guarani. Campinas,
Papirus, 1990.
Melià,
Bartomeu. A experiência religiosa guarani, in: Marzal, Manuel et al., O rosto
índio de Deus. Petrópolis (RJ), Vozes, 1989, p. 293-357.
Melià,
Bartomeu. A história de um guarani é a história de suas palavras. Entrevista,
in: Revista do Instituto Humanitas Unisinos (IHU), São Leopoldo (RS), n. 331,
31.05.2010.
Suess,
Paulo. Por uma “Terra sem mal”. Mito guarani e projeto de sororidade. In:
Encontros Telógicos. Instituto Teológico de Santa Catarina (Itesc), Ano 16/2,
n. 31, 2001, p. 133-148. Uma versão mais ampla in: Revista Eclesiástica
Brasileira (REB), fasc. 244 (dezembro 2001), p. 854-876.
Suess,
Paulo. Povos da madrugada em busca de alternativas. In: Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), Outros 500: Construindo uma nova história. São Paulo,
Salesiana, 2001, p. 192-199.
Suess,
Paulo. Romper o mal-estar na missão. Os povos indígenas e a Igreja
pós-conciliar. Perspectiva Teológica, XXXIV/92 (Jan./Abr. 2002), p. 11-36.
Também in: A esperança dos pobres vive. Coletânea em homenagem aos 80 anos de
José Comblin. São Paulo, Paulina, 2003, p. 609-631.
Viveiros de Castro, Eduardo Batalha. In: Nimuendajú, Kurt Unkel, As lendas da criação e destruição do mundo como fundamento da religião dos Apapocúva;Guarani, São Paulo, EDUSP/Hucitec, 1987, p. XXXIII.
Viveiros de Castro, Eduardo Batalha. In: Nimuendajú, Kurt Unkel, As lendas da criação e destruição do mundo como fundamento da religião dos Apapocúva;Guarani, São Paulo, EDUSP/Hucitec, 1987, p. XXXIII.
VIII Encuentro Continental de Teología India [Panajachel, Guatemala, 26-30.09.2016]
“Se encontraron y juntaron sus palabras y sus pensamientos” (Popol Wuj)
“Y la Palabra se hizo carne y puso su tienda entre nosotros” (Juan 1:14)
Mensaje final



Amaneció
el primer día, Kieb’ Ajmaq. Recordamos cómo expresaban, cómo analizaban nuestros
abuelos la realidad, qué rescatamos de sus prácticas. “El dolor de tu hermano
es mi dolor. Nuestra lucha es de hermandad, de igualdad”, relata una hermana
guna sobre la palabra sagrada de Ibeler. También analizamos nuestra realidad de
hoy con el canto, la danza, los ritos, los idiomas; con el teatro, la oración,
bendiciones y escritos, con todo ello fuimos exponiendo nuestro análisis y
denuncias de hoy: asesinatos, impunidad, amenazas por todas partes a nuestros
territorios, mega proyectos hidroeléctricos y mineros devastadores, leyes contra
la vida, gobiernos serviles del neoliberalismo, destrucción de la madre
naturaleza con agronegocios, venenos y transgénicos, criminalización de líderes
y luchas sociales. Pero también, resistencia de mujeres y ancianos, revitalización
de ritos que consolida la identidad, el servicio de hermanos que fortalece a
muchos.

Enriquecidos
con la fuerza espiritual originaria, que nos abrió el corazón y nos reafirmó
que Dios camina con nosotros, hablamos de nuestras luchas por la armonía de la
vida, del compartirnos en especial con los pobres y enfermos, de la comunidad
organizada con actitud de servicio, de la solidaridad con los migrantes, de la
unidad en la diversidad. Son valores contrarios a la sociedad neoliberal y que
nos ayudan a todos –indígenas y no indígenas- a superar las terribles y
sistemáticas amenazas que matan y destruyen nuestros pueblos y a la Madre
Tierra. Nuestro trabajo comunitario se inspira en la palabra sagrada sobre la
organización de las hormigas-arrieras. Debemos ser valientes colibríes para
enfrentar a los grandes enemigos. Los sueños, la danza, los cantos nos dan
fuerza para llegar al fondo de estas verdades.

Son
innumerables los retos y compromisos que tenemos hacia adelante. Gracias a
nuestro Dios, Madre-Padre, son muchas las cosas que ya estamos haciendo.
Creemos que hay algunos compromisos imprescindibles que hoy reafirmamos:
Como
pueblos originarios:
1. Seguiremos
profundizando en la sabiduría ancestral (cantos, danzas, rituales, la palabra
sagrada de nuestros abuelos) y compartirla con nuestros jóvenes y niños.
2. Fortaleceremos el
valor y la participación de la mujer buscando la de justicia género en nuestras
comunidades.
3. Mantendremos el
diálogo comunitario para mejorarnos y unirnos más. Huir de la división como de
la peste.
4. Entregaremos
nuestras flores a los pastores de nuestras iglesias.
Como
hermanos no indígenas:
1. Seguiremos
acompañando, asumiendo como nuestra, la suerte de los pueblos originarios.

3. Denunciaremos
ante los organismos internacionales las violaciones, criminalizaciones y
violencias a la vida y dignidad de los pueblos indígenas y de los pueblos en
aislamiento voluntario.
Todos
juntos, como hermanos:
1. Construiremos
alianzas y redes, con respeto y tolerancia, para lograr la vida plena para
todos.
2. Denunciaremos las
amenazas del sistema perverso en que sobrevivimos (por ejemplo, la desaparición
de los 43 jóvenes de Ayotzinapa y el genocidio del pueblo guaraní-kaiowa).
3. Trabajaremos
profundamente en la reconstrucción de nuestra casa común, defendiendo los
territorios de los pueblos.
4. Haremos procesos
serios de diálogo interreligioso que nos hermanen y nos enriquezcan.
5. Trabajaremos por
descolonizarnos todos como iglesias y sociedad.

Delegação brasileira |
¡Mientras luchamos, soñamos, danzamos y cantamos,
contribuimos a la llegada de los cielos nuevos y la tierra nueva!
Panajachel,
Joob’ Kawok, Oxlajuj B’aktun, Maj Katun, Oxib Tun, Kajlajuj Winal, B’elej’lajuj
Kin, Kieb’ yax (año 5,132 del calendario largo maya)
30
de septiembre de 2016.
Indígenas Guarani-Mbya padecem no RS
“É preciso não ter ilusões na decisão da justiça. É uma justiça de classe, uma justiça dos latifundiários. E, apesar de que esse é o seu mais clamoroso escândalo, o furto de terra mais abjeto, o Supremo Tribunal Federal não dará ganho de causa aos índios. Alimentar ilusões nesse sentido é desarmar os lavradores pobres e os colonos...”
Jorge Amado em “Os Subterrâneos da Liberdade – Os Ásperos Tempos”
Testemunho missionário de dom Franco Masserdoti - 10 anos se passaram desde o dia de sua ressurreição
Em memória
de Dom Franco Masserdotti
Dom Franco morreu como presidente do Conselho Indigenista Missionário/Cimi (1999-2006) em exercício, como ciclista atropelado e como bispo de Balsas. Mas, ele não era somente bispo de Balsas. Em sua vida puxou muitas balsas, cada uma carregada com causas e casos que lhe foram confiados na necessidade da travessia missionária e na imprevisibilidade de sua biografia, exatamente, como o poeta canta: “Navegar é preciso, viver não é preciso”.
Quando a Assembleia do Cimi, em 1999, elegeu D. Franco como seu presidente, ele era bispo jovem, com apenas três anos no cargo, mas missionário carimbado nas múltiplas tarefas que exerceu pela sua congregação comboniana e a Igreja universal. Já na época era um representante da “Igreja em saída”, preconizada pelo Papa Francisco. Nós do Cimi sabíamos, que na balsa da vida deste jovial e alegre missionário caberia ainda a causa indígena, uma causa pesada numa sociedade que considera os povos indígenas como um estorvo para o progresso.
Dom Franco Masserdotti assumiu a causa indígena na perspectiva de seu lema episcopal: “Para que tenham vida”. Assumiu a causa indígena com a suavidade de seu jeito amigo e com a leveza do peregrino, que lhe deu entre alguns de nós o apelido de “o pega-leve”. Vez por outra vimos D. Franco sabiamente indignado, mas nunca com uma “ira santa” contra dos inimigos da causa. Nas reuniões do Cimi, muitas vezes correu aos fundos da sala, atendendo pelo seu celular a uma das múltiplas causas que o interpelavam, interromperam e, urgentemente, solicitavam. Dom Franco deixou-se interromper por pobres, índios, aflitos. Mesmo quando não teve a possibilidade de intervir, nunca negou a graça de escutar e consolar.
Com todas essas “interrupções” de sua travessia, não perdeu a precisão da navegação. No Cimi insistiu muito na confecção de um Plano de Pastoral para que no meio das lutas indígenas sempre se dê “a razão da esperança” (cf. 1Pd 3,15) contida no dia a dia da pastoral indigenista. Pela insistência de D. Franco, a Assembleia Geral do Cimi de 2005 aprovou esse Plano de Pastoral no qual o Cimi procura prestar conta dessa esperança, de forma articulada, para si mesmo, para a Igreja do Brasil e para todos que acompanham esse trabalho com simpatia e solidariedade. Na apresentação desse Plano, D. Franco pediu “que Deus ilumine e abençoe a caminhada do Cimi a serviço do Reino”!
Querido D. Franco, irmão da caminhada! A partir das suas balsas você sempre olhou para além-fronteiras e para a terra firme que agora alcançou. Novamente é sua vez de interceder ao lado do companheiro-mártir de sua congregação, Pe. Ezequiel Ramin, e face a face com o bom Deus pela iluminação das nossas pastorais e pela firmeza nossa na defesa dos povos indígenas!
Brasília, 17 de setembro de 2016
Paulo Suess, assessor teológico do Cimi
Travessia, não sem esperança
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O juramento sinodal: caminhar juntos |
No
dia da derradeira votação do impeachment, 31 de agosto, bem cedo, embarquei na
cidade do México, no avião da Copa, com a frágil esperança de uma vitória do
bom senso e da justiça. Não foi por admiração ou gratidão à presidenta Dilma
que nos pronunciamos contra à substituição do voto popular das eleições pelo
voto elitista do Senado. Durante seu mandato, a presidenta deposta não foi a melhor
interlocutora dos povos indígenas e dos movimentos sociais. Mas, as perícias jurídicas
não confirmaram a criminalidade das pedaladas e dos créditos suplementares que
serviram de pretexto para o impeachment. Nós da pastoral popular nos
pronunciamos contra a substituição do voto das urnas pelo voto do Senado porque
essa substituição não estava no script dos constituintes de 1988 e ameaça o
futuro democrático do país.
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Travessia com esperança |
Doravante,
cada eleição das urnas está ameaçada por uma segunda votação no Senado. Sempre
haverá senadores, agora coma experiência da toga de juízes, em busca de um bode
expiatório que permite redimir, não o povo, mas um bom número de senadores dos
seus escândalos comprovados. Seu foro privilegiado permite metamorfosear
incendiários em bombeiros.
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Frida Kahlo (1907-1954) |
No
México, em momentos vagos entre um Simpósio na Universidade Intercontinental e
um Simpósio com ex-alunos de São Paulo, visitei a casa azul de Frida Kahlo
(1907-1964), onde a pintora se encontrou com Trotsky e intelectuais da época.
Alguém me lembrou do Coletivo Feminista “Não me Kahlo”. Diante das pendências
da vida, contudo, não sem esperança, Frida Kahlo me permite construir uma ponte
às pendências da nossa democracia “sofrida, mas não me calo”.
FRANCISCO, JESUS E AS MULHERES
Frei Betto
O papa Francisco nomeou uma comissão para analisar se as mulheres devem
ter acesso ao diaconato, como já ocorre com homens solteiros ou casados.
Diácono ocupa, na hierarquia, um grau abaixo do sacerdócio. Pode presidir
matrimônios e batizar, mas não celebrar missa. Havia diaconisas na Igreja
primitiva.
Em muitos países, inclusive no Brasil, já há religiosas que, autorizadas
pelo bispo local, presidem matrimônios e celebram batismos, embora não sejam
diaconisas.

Não há fundamento bíblico para excluir mulheres do sacerdócio, e até do
direito de serem bispas e papisas. O grande obstáculo é a cultura patriarcal
predominante nos primeiros séculos do cristianismo e ainda em voga na Igreja
Católica.
Mateus aponta, na árvore genealógica de Jesus, cinco mulheres: Tamar,
Raab, Rute e Maria; e, de modo implícito, a mãe de Salomão, aquela "que
foi mulher de Urias". Não é bem uma ascendência da qual um de nós haveria
de se orgulhar.
Viúva, Tamar se disfarçou de prostituta para seduzir o sogro e gerar um
filho do mesmo sangue de seu falecido marido. Raab era prostituta em Jericó.
Rute, bisavó de Davi, era moabita, ou seja, pagã aos olhos dos hebreus. A
"que foi mulher de Urias", Betsabeia, foi seduzida por Davi enquanto
o marido dela guerreava. E Maria, mãe de Jesus, também não escapou das
suspeitas alheias, pois apareceu grávida antes mesmo de se casar com José. Como
se vê, o Filho de Deus entrou na história humana pela porta dos fundos.
Jesus se fez acompanhar pelos Doze e por algumas mulheres: Maria
Madalena; Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes; Susana “e várias
outras”, diz Lucas (8,1). Portanto, Jesus nada tinha de machista. E
frequentava, em Betânia, a casa de suas amigas Marta e Maria, irmãs de Lázaro.

A misoginia é, na Igreja Católica, uma síndrome injustificável,
sobretudo se considerarmos que em comunidades rurais e de periferias urbanas
são as mulheres que predominantemente conduzem a atividade pastoral. Hoje,
felizmente, várias mulheres casadas detêm, inclusive no Brasil, o título de
doutoras em teologia.

Não há um só caso nos evangelhos em que Jesus tenha repudiado uma
mulher, como fez com Herodes Antipas, ou proferido maldições sobre elas, como
fez com os escribas e fariseus. Com elas, mostrava-se misericordioso,
acolhedor, afetuoso, e exaltava-lhes a fé e o amor.
É chegada a hora de a Igreja assumir o seu lado feminino e abrir todos
os seus ministérios às mulheres. Afinal, metade da humanidade é mulher. E a
outra metade filho de mulher.
O sangue de Meruri: O martírio de Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo há 40 anos
TRANSFORMAÇÃO DO
PARADIGMA MISSIONÁRIO
O
martírio de Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo (1976-2016)
Paulo
Suess
O
Papa Francisco recupera passo a passo o significado da catolicidade da Igreja
que é ser universalmente um sinal de contradição. Ao mesmo tempo que ele rompe com
muitos traços do provincialismo eclesiástico de inspiração eurocêntrica,
fortalece as Igrejas locais e o princípio da sinodalidade. Essa atenção para o
mundo local e para a diversidade nas microestruturas é um contraponto para a
globalização uniformizada das mercadorias e da mídia de um sistema que não
simplesmente explora e oprime, mas mata (cf. EG 53). Pela sua necessidade de
crescimento e acumulação esse sistema matou também o missionário Lunkenbein e
seu defensor, o Bororo Simão Cristino, e continua matando até hoje as
lideranças indígenas.
1.
Novo paradigma missionário
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15.07.1976: Velório em Meruri/MT |
O
Concílio Vaticano II (1962-1965) ajudou na reformulação do trabalho missionário
junto aos povos indígenas e a todos os setores, vítimas de exploração, exclusão
e desigualdade social. Na sua segunda vinda ao Brasil, em 1970, o missionário
Rodolfo não veio mais para salvar as almas dos Bororo no interior de um projeto
desenvolvimentista e assimilacionista, mas para propor o resgate de suas vidas
e contribuir para a construção de uma perspectiva de esperança. Muitos jovens,
leigos e religiosos, lutaram para colocar em prática esse novo paradigma da
missão em suas Igrejas locais, Congregações e na construção dos rumos pastorais
do próprio Cimi.
O
Cimi, fundado em 23 de abril de 1972, aprendeu do magistério latino-americano pós-conciliar
que a missão não pode servir a dois senhores. A geração dos jovens que foi para
as aldeias indígenas recusou-se a viver o seguimento, engessado por virtudes
secundárias da pequena burguesia como pontualidade, parcimônia, obediência e
limpeza. Aceitaram essas virtudes secundárias somente a serviço de outras virtudes
maiores como justiça, solidariedade, tolerância, simplicidade e despojamento em
prol da vida ameaçada dos povos indígenas. Essa geração pós-conciliar contrariou
os interesses do latifúndio, do grande capital e do modelo de desenvolvimento
implantado no país. Por não caber em sistemas uniformizados de competição e
crescimento que visam lucro e poder, a causa indígena é um sinal de contradição
e a história dos seus defensores é marcada por assassinatos ou, recentemente,
por CPI´s para despistar a atenção da sociedade brasileira dos verdadeiros
problemas.
2.
Primeiros passos rumo à Missão
Rodolfo
Lunkenbein (1939-1976), alemão de nascimento, salesiano por opção e, com a
graça de Deus, mártir em terras indígenas, foi, pelas duas estadias em épocas diferentes
no Brasil, um missionário pré e pós-conciliar. Nascera como filho de pequenos
lavradores no dia 1º de abril de 1939, em Döringstadt, no sul da Alemanha.
Depois de descobrir uma biografia de Dom Bosco, com 11 anos, queria estudar no
internato salesiano de Bamberg. A família não tinha os recursos para custear o
sonho do filho, que queria ser missionário. Finalmente, pela mediação do
pároco, já com 14 anos de idade, em 1953, foi aceito no aspirantado de Buxheim,
onde foi aluno do colégio Marianum de 1952 a 1958. Os que conheciam “Lunke”,
como foi chamado pelos colegas da escola, o descrevem como um jovem alegre,
aberto, piedoso.
Em
1958, o novo inspetor salesiano do Mato Grosso trouxe de sua terra natal, da
Alemanha, um grupo de jovens missionários e seminaristas ao Brasil, entre os
quais se encontrava Lunkenbein, que logo no ano seguinte fez seu noviciado em
Pindamonhangaba (SP). Seguiram os estudos de filosofia e formação salesiana em
Campo Grande (1960/1962). Entre 1963 e 1965 foi destinado para a Missão
Salesiana de Meruri/MT, onde fez seus anos práticos como professor e educador com
aulas para as crianças dos Bororo, dos fazendeiros e dos posseiros da região. Ainda
encontrou tempo para mostrar suas habilidades para consertar motores e máquinas
da missão, símbolos do progresso civilizatório e da missão desenvolvimentista.
Ninguém
falava ainda de demarcação da terra dos Bororo, os mesmos Bororo que Claude
Lévi-Strauss, 40 anos antes tinha visitado. O antropólogo ilustre dedica
elogios generosos e críticas severas à Missão Salesiana da época. Elogios, por
ter junto com o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) conseguido acabar com os
conflitos entre índios e colonos e por ter realizado “excelentes pesquisas etnográficas”.
Críticas, ao chamar a atividade missionária dos discípulos de Dom Bosco “um
empreendimento de extermínio metódico da cultura indígena”. Lévi-Strauss, que
entre 1935 e 1939 era professor de sociologia na Universidade de São Paulo
(USP), admite que esse extermínio não foi completo. Conta o antropólogo, que
seu intérprete e principal informante na aldeia de Kejari, tempos antes tinha
sido levado pelos missionários à Roma. Foi apresentado ao Papa por causa de
suas habilidades bilíngues que demonstrariam o sucesso catequético da missão.
Mas, depois do retorno à sua aldeia, conta o professor, o índio sofreu “uma
crise espiritual, da qual se saiu reconquistado pelo velho ideal bororo: foi
instalar-se em Kejari, onde desde há dez ou quinze anos, seguia uma vida
exemplar de selvagem. Inteiramente nu, pintado de vermelho, com o nariz e o
lábio inferior trespassados pela pequena barra e um adorno labial, o índio do
Papa revelou-se como um maravilhoso professor de sociologia bororo”
(Lévi-Strauss, p. 203). O antropólogo da França, pelo seu livro “Tristes
Trópicos”, deu fama aos Bororo, o missionário da Alemanha ajudou na recuperação
de seu território e deu a sua vida.
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