A modernidade líquida de Zygmunt Baumann



Zygmunt Baumann acrescenta aos três pilares da modernidade (racionalidade, individualidade, historicidade) um quarto elemento, a "liquidade" (ou "liquidez"). A "liquidade" relativiza a previsibilidade de caminhos e currículos, suspende fronteiras e "liquida" compromissos a longo prazo. Tudo o que é proposto como definitivo pela Igreja perdeu, estatisticamente, sua "sustentabilidade". A linha reta virou curva e nós estamos fora da curva...


A “Vida Pastoral” dedicou um número especial (março-abril de 2015) à “Pastoral em tempo de modernidade líquida”. Para introduzir ao tema, reproduzimos parte da “Carta do editor” (Pe. Jakson Alencar, ssp).

O contexto histórico atual, marcado por transformações aceleradas, em que “tudo o que é sólido” parece desmanchar-se no ar, foi conceituado de maneira acurada pelo pensador Zygmunt Bauman com a metáfora da “modernidade líquida”. A ideia aponta para o fato de que, no mundo de hoje, tudo tende a modificar-se ligeiramente, como as substâncias líquidas o fazem nos lugares onde são inseridas ou derramadas.
A sociedade contemporânea tem forte e constante tendência à ruptura com a tradição, como se tudo tivesse de se renovar a cada passo. Isso está presente na mentalidade e nos princípios de vida e repercute na maneira pela qual as empresas e instituições sociais procuram se renovar. O ser humano tende a um estilo de vida desenraizado, seja das tradições, seja dos ideais elevados e norteadores, o que gera vazio, carência de sentido da vida, ansiedades de todo tipo. Tende-se a transformar o ser humano em mero indivíduo consumidor ou mesmo em objeto de consumo. A suposta liberdade que se propala parece reduzir-se à escolha entre um produto ou outro. A radicalização do individualismo torna mais difícil a convivência, o que se reflete nas dificuldades da vida comunitária e familiar. Tudo isso se reflete também nas incertezas da vida cotidiana; na precariedade dos laços afetivos, profissionais e com ideais norteadores; na troca do durável pela amplitude do leque de escolhas.
Por um lado, a valorização da singularidade pessoal, da pluralidade e da diversidade é positiva; por outro, fomenta a colagem e a bricolagem de elementos, seja na vida, na cultura e nas religiões; a preferência pelo exótico e pelo que tem aparência de novo. A religião e todos os aspectos sagrados da vida são dessacralizados, enquanto se sacralizam e se fetichizam os produtos, o consumismo, o prazer, ou ainda a religião é transformada em objeto de mercado, submetido à lei da oferta e da procura, conforme os interesses e modismos do momento.
Tudo isso, evidentemente, remexe com vigor a Igreja católica, que (...) desde o início do segundo milênio sempre se apresentou como uma instituição muito sólida, hierarquicamente bem estruturada de alto a baixo, com limites geográficos bem definidos em dioceses e paróquias, com um governo central de poderes amplos e incontestáveis, com doutrinas e normas universais bem definidas e rígidas e com todo um aparato que lhe dava uma conotação de perpetuidade, sacralidade e inquestionabilidade. (...).
Cf. a entrevista com Zygmunt Bauman.


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