Nossa Senhora de Aparecida, a Madona Negra do Brasil, tem uma proximidade muito grande e legítima com os afrodescendentes, mas a sua origem está num contexto arquetípico mais amplo e remoto. O mundo inteiro – de Charters (França) até Guadalupe (México) - conhece madonas negras, que originalmente substituíram deusas ligadas ao culto à mãe-terra, zeladoras de fontes e covas sagradas, transmissoras de energias lunares e telúricas.
As três grandes deusas do Leste, Isis, Cibele e Diana de Éfeso, que eram representadas como negras, se estabeleceram no Ocidente antes de sua romanização. Isis, no Egito já conhecida mais de 2.000 anos antes de Cristo, era esposa de Osíris e mãe de Hórus. Sua representação artística mostra uma mãe amável. A Isis foram atribuídas sabedoria e dedicação aos humanos. Ela era a deusa mais popular do império romano tardio. As primeiras imagens da Madona Negra e de seu divino filho são representações de Isis com seu filho Hórus.
Sob a pressão do cristianismo como religião do Estado sobre o paganismo, a partir de Teodósio (346/7-395), as imagens de Madonas Negras critãs substituíram as esculturas de Isis, assumindo a energia telúrica-lunar e o poder milagroso dela. Energia lunar e poder milagroso continuam até hoje nos santuários marianos.
Nas representações da Madona Negra, sentada no trono de deusa-rainha, sobrevive, com novas explicações, o imaginário de Isis, antiga deusa mãe. Nessas representações, muitas vezes, o filho de Maria já é um adulto, apontando para o equilíbrio dos gêneros e a harmonia entre as forças lunares e solares, que são as forças do universo. No mundo andino dos Quíchua e Aimara, esse equilíbrio é o pressuposto do “bem viver” social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário