No Vale do Javari: 4200 indígenas contaminados pela hepatite


A redução das populações indígenas da região do Vale do Javari causada pelos constantes casos de doenças como hepatite e malária vem revoltando há muitos anos as lideranças das etnias marubo, mayoruna, kulina, matis e kanamari. Apesar das denúncias enviadas a várias instâncias governamentais nacionais e internacionais, muitas delas até mesmo nas Organizações das Nações Unidas (ONU) nos últimos anos, as medidas não têm surtido efeito, segundo Jader Comapa, coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).
“Estamos sendo aniquilados pela hepatite. O povo marubo, por exemplo, era formado por 20 mil pessoas há 40 anos. Há dez éramos mais de dois mil. Agora somos menos do que isso”, disse Comapa. [...] O dia 10 de maio próximo será marcado por manifestações, em Manaus, em defesa da vida dos povos do Vale do Javari. Essa é uma das expectativas das organizações indígenas promotoras da campanha “Povos Indígenas do Vale do Javari: Unidos Pela Saúde, Pela Vida”. A data foi escolhida como dia “D” da campanha para mobilizar todos os segmentos sociais em apoio à luta daqueles povos por políticas de saúde eficazes e eficientes contras as endemias que estão matando lentamente os Kanamari, Marubo, Kulina, Mayoruna (Matsés) e Matis.
A voz de Kurá Kanamari
Um relato comovente sobre a situação atual do vale do Javari foi feita por Kurá Kanamari durante a Assembleia Nacional do Conselho Indigenista Missionário – Cimi, em outubro de 2011, em Luziânia (GO):

“É uma vergonha a proposta de sequestro de carbono. É uma vergonha que o governo está fazendo com todos nós. [...] E a presidente Dilma pensa que vai enganar índios com a construção de algumas poucas casas. Mas a dívida do governo com a gente é outra - é a terra, respeitar essa terra que é viva, que é como nosso corpo. Nela tem água, nela tem sangue, tem olhos, orelha. É uma vergonha para o mundo e para o Brasil, a quantidade de mortes de crianças no Vale do Javari. Não é possível que, com tantos recursos, não se possa ainda ter um programa para reverter estas mortes. A Funasa, Sesai ninguém cuida direito do nosso povo, que está doente. São 4.200 índios que estão contaminados com o vírus da hepatite. Muitos morrem, a aldeia fica triste, e só nos enganam com promessas. O Vale do Javari é a região que concentra mais índio isolado do Brasil, os parentes estão ali na beira dos rios. A contaminação maior é do povo Mayoruna, Kanamari e Korubo. Se os Korubo têm relação com os isolados, quem irá tratá-los? Estão preocupados apenas com a proposta de sequestro de carbono? Estamos muito alegres com a volta do Cimi com mais gente para nos ajudar. Estamos lutando para viver melhor, com nossa cultura, falar nossa língua, comer o peixe pescado na hora, sentir o cheiro da floresta, isso é o Bem Viver. Não dá pra viver na beira da estrada porque nós somos a terra, e ela é a nossa mãe. [...] Somos perseguidos, mas não estamos abandonados, a floresta defende os seus filhos com água, com relâmpago, com temporal. Ninguém vive só! O Bem Viver é para todos os seres viventes, para todos.”

Campanha de solidariedade

Uma das atividades da campanha é a coleta de assinaturas em um abaixo-assinado que será entregue à Secretaria Especial de Saúde Indígena - Sesai, Ministério da Saúde, Ministério da Justiça e outros órgãos governamentais cobrando soluções concretas do Governo. Os interessados em apoiar os povos do Vale do Javari podem baixar do site do Cimi (www.cimi.org.br) o formulário para coletar assinaturas e enviar para o endereço que consta no próprio documento. “Nós queremos que as pessoas se manifestem em apoio a nossa atual situação porque precisamos de toda ajuda possível, porque nós estamos sendo aniquilados por doenças que nossos pajés não conseguem curar, como a hepatite e a malária”, diz Jáder Comapa, coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari – Univaja.
[fonte: Ir. Edina Pitarelli, Cimi Norte I (AM/RR) e site do Cimi]

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