Assembleia e passeata por terra e justiça dos Kaiowá Guarani

Grande Assembleia à beira do rio Dourados


Passo Piraju, à beira do rio Dourados. Um vento forte, de agosto, com um frio cortante. Uma grande Assembleia Kaiowá Guarani, a céu aberto. Centenas de indígenas e algumas dezenas de aliados realizaram um dos momentos fortes da luta pela terra, contra a violência e pela garantia dos direitos dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul e do Brasil.
  Passo Piraju, um lugar emblemático, de retomada, de resistência, de intenso sofrimento, de contínua tensão e ameaça, uma comunidade odiada por setores da população regional, pois numa invasão e confronto, em 2006, morreram dois policiais. Até hoje alguns indígenas estão em regime de prisão na comunidade. Foi ali, que se realizou, sob a proteção dos Nhanderu, de Tupã e dos espíritos dos guerreiros Guarani Kaiowá, essa Aty Guasu (Grande Assembleia) histórica de um povo em caminhada, em retomada de suas terras, esperança e sonhos.
  No “manifesto da Aty Guasu de Passo Piraju”, é reafirmada a decisão de continuar a luta pela terra, não aceitar retrocessos, e exigir respostas efetivas dos poderes públicos diante da dramática situação que enfrentam a maioria das trinta comunidades-aldeias Kaiowá Gaurani no Mato Grosso do Sul.
  As lideranças, no manifesto reafirmam a firme decisão de recuperarem suas terras “Vamos retomar nossas terras para que nossas matas voltem a nascer e nossos córregos voltem a correr! Jamais vão conseguir nos calar ou fazer com que deixemos nossa luta pela retomada de nossas terras! É um caminho sem volta! Quanto mais nos agridem mais decididos ficamos pela reconquista definitiva de nossos territórios e menos acreditamos nas autoridades. Vamos avançar, nos organizando cada vez mais! Podem passar várias gerações e nosso povo continuará na luta até a retomada de TODAS as nossas terras tradicionais!”.
  Também foi enviado um documento às autoridades informando e exigindo providências sobre a violência que sofrem os Kaiowá Guarani na retomada de Pyekuti Kue e Mbaraka’i: “Nós, povos Kaiowá e Guarani, reunidos em nossa Aty Guasu, realizada na Terra Indígena Passo Pirajú, município de Dourados, Mato Grosso do Sul, vimos por este documento informar as autoridades competentes, à Polícia Federal, Ministério Público Federal e Entidades e Organizações de direitos humanos que nossos parentes Kaiowá e Guarani do Tekohá Mbaraka´y e Puelito Kuê, município de Iguatemi, neste exato momento, acabaram de retornar à suas terras tradicionais das quais foram atacados nos dias 14 e 15 de agosto deste ano. Que nossos parentes estão agora dentro de sua terra, sitiados e que poderão sofrer violências pelos pistoleiros e fazendeiros da região a qualquer momento.”

Ato público e passeata por terra e justiça


A grande Assembleia Kaiowá Guarani foi finalizada com um ato publico e passeata pela principal avenida da cidade de Dourados. Mais de 500 Kaiowá Guarani e Terena percorreram a região central da cidade. Cantando e manifestando sua indignação e esperança, distribuem o folheto “Em Defesa dos Povos Indígenas de Mato Grosso do Sul”. Ali constam os índices alarmantes da violência em que se debatem as comunidades Kaiowá Guarani. As chamadas nos dão a dimensão da gravidade da situação: “Violência e Barbárie estão às soltas em MS”, “A difusão do preconceito é uma das armas do latifúndio”. A marcha prosseguiu por quase duas horas, até chegar ao prédio da Funai. Na sede do órgão fizeram um rápido ritual para trazer os bons espíritos ao local e afastar tudo que possa prejudicar os direitos indígenas. O ritual é interrompido por um telefonema de Lide Lopes, de Pyolito Kue, que comunica mais um covarde ataque dos pistoleiros, causando uma absurda situação de violência, destruição e pessoas feridas. Por se tratar já da terceira ação violenta que sofreram em menos de duas semanas. É uma nova declaração de guerra, onde de um lado estão homens armados e decididos a atirar, expulsar, destruir enquanto do outro lado está uma centena de homens, mulheres e crianças armados apenas de seu direito de retornar a um pedaço da terra da qual foram expulsos há poucas décadas.

Egon Heck e Equipe do Cimi
Dourados, 22-24 de agosto de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário