No dia 7 de maio 2010, representantes Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul estiveram na PUC-SP para denunciar a violência contra seu povo e pedir apoio. Com os incentivos ao agronegócio, a violência no Mato Grosso do Sul aumenta a cada dia. Em 2006 foram mortos 28 indígenas naquele Estado, em 2007, 53 indígenas, e em 2008 42 pessoas. A Reserva Indígena de Dourados, MS, por exemplo, melhor seria chamada de “Confinamento Indígena”: em 3 mil hectares de terra foram confinados 18 mil indígenas. Os espaços ínfimos de terras habitadas pelos índios contrastam com as terras disponibilizadas para o plantio da cana-de-açúcar. Uma usina de açúcar ocupa, no mínimo, uma área de 30 mil hectares. Na safra 2008/9, a ETH Bioenergia, braço energético do Grupo Odebrecht, produziu 200 milhões de litros de etanol e 130 mil toneladas de açúcar. Em 2009, a ETH inaugurou três usinas, nos estados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul. A meta da ETH é produzir 470 milhões de litros de etanol e 160 mil toneladas de açúcar na safra 2009/10. “Nossa aposta é que o Centro-Oeste (GO, MT, MS) será a região de vocação natural para a expansão da cana-de-açúcar”, declarou José Carlos Grubisich, presidente da ETH Bioenergia. A expansão do agronegócio configura a violência contra os povos indígenas da região.
Na semana em que as lideranças indígenas estiveram em São Paulo, iniciou-se o julgamento dos acusados do assassinato do cacique Marcos Verón (72), que ocorreu em janeiro de 2003, em Juti, MS. Por não haver isenção nos julgamentos envolvendo indígenas naquele estado, o Ministério Público Federal pediu que o processo fosse julgado na capital paulista. No segundo dia, o julgamento foi transferido para o dia 21 de fevereiro 2011, confirmando o dito de uma das advogadas dos Guarani Kaiowá: “Se os índios são réus, os processos andam com certa rapidez, se os índios são vítimas, os processos são engavetados ou prescrevem pela morosidade da justiça”.Valdelice Veron, filha do cacique assassinado, perguntou a plateia num depoimento comovente naquela noite no pátio do Museu da Cultura da PUC-SP: “Que história vou contar para meus filhos? Meu bisavô e meu avô foram assassinados pela “Matte Laranjeira”, meu pai foi assassinado pelos jagunços do latifúndio. Rolindo e Genivaldo, meus colegas professores, foram assassinados este ano. Tudo permanece impune até a prescrição do processo. Isso não é normal. Meu coração sangra muito. Pra quem a gente vai clamar? De nós esperam que deixemos de ser índios. Mas nós não vamos deixar de ser índios. Onde um cai, outro se levanta!”
Autor: Paulo Suess, presente no dia 07.10.2010 na PUC-SP
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